Uma solução “exótica” e “absurda” que “nunca foi implementada na Europa”

O especialista em transportes e docente universitário Manuel Tão critica a opção do Governo.

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evr Enric Vives-Rubio

Apesar de o governo apresentar o metrobus como “moderno, confortável, rápido e fiável, prático, seguro”, o especialista em transportes e docente universitário Manuel Tão considera a proposta “absurda”. Manuel Tão entende que a “exploração com autocarros [daquele trajecto] é uma coisa absurda” e aponta para questões como o tempo de vida útil do material circulante, as horas de ponta e para o serviço na óptica dos passageiros.

O académico defende que a reposição e electrificação da linha da Lousã ficaria a cerca de metade dos 90 milhões apontados pelo estudo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil para a instalação dos autocarros. Isto sem a compra de material circulante, que a CP tem em excedente.

“O que me causa alguma perplexidade é como é que se descarta sem qualquer tipo se fundamentação sólida uma solução que é muito mais barata que um sistema exótico que nunca foi implementado na Europa”, afirma.

O professor da Universidade do Algarve refere que um autocarro tem cerca de 10 anos de vida útil, o que poderá colocaria questões de manutenção e reposição do material circulante a curto prazo.

Nas horas de ponta o reforço de serviço também é diferente em relação às soluções ferroviárias, em que se poderia atrelar mais uma carruagem. Num autocarro isso não é possível, levantando questões de “custos operacionais, falta de fiabilidade e desconforto para os passageiros”. “A ferrovia é o único que garante que podemos modelar a economia de escala aos picos”, sem recorrer a um reforço de condutores. “Com autocarros é um absurdo técnico”, sustenta.

O sistema de metrobus implica ainda a instalação de um sistema de guiamento que Manuel Tão diz não representar grande poupança em relação aos custos de construção da ferrovia. Este sistema “é utilizado em algumas linhas urbanas de cidades europeias e numa linha rural, em Cambridge”. Mas a linha britânica, explorada por vários operadores, tem um sistema de via dupla, contrariamente à da Lousã. O especialista refere ainda que, no caso do Sistema de Mobilidade do Mondego, durante o Inverno há gelo em alguns pontos do percurso, tornando-o mais perigoso para transportes sobre rodas do que sobre carris.

Ao entender que o propósito dos transportes públicos é retirar automóveis das estradas, Manuel Tão explica que estes têm que “ser atraentes”. “Um autocarro nunca terá o conforto nem a fiabilidade dos transportes sobre carris”, diz, referindo que “ninguém vai largar o automóvel para ir para um autocarro”. Ou então parte-se do princípio que o transporte público só serve “os pobrezinhos, idosos e crianças que não têm carta”.

O académico defende que, se for para servir as populações com autocarros, “mais vale melhorar a estrada que existe do que apostar num sistema sem fiabilidade e sem retorno”. Manuel Tão vê o sistema misto como uma solução viável. Comboios pesados nas zonas suburbanas e um sistema ligeiro, de trem/tram, na zona urbana. “Seria o sistema ideal” e “seria mais barato que esta solução que está a ser apresentada”.

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