O que te inquieta no teu corpo?

Anticorpos, espectáculo do encenador Patrick Murys, percorre a Oficina Municipal do Teatro a partir desta quinta-feira, em Coimbra.

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Anticorpos baseia-se num texto de Bruno Schultz Carlos Gomes
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Anticorpos baseia-se num texto de Bruno Schultz Carlos Gomes

A ideia é de resistência, de diagnosticar a própria doença e encontrar o respectivo antídoto. Para isso, quatro corpos movem-se numa superfície em busca de respostas. Anticorpos, o espectáculo d’O Teatrão que sobe esta quinta-feira ao palco, em Coimbra, combina teatro físico, dança e movimento. Várias linguagens para pôr o público a pensar sobre as várias dimensões do corpo.

O espectáculo é itinerante, sem sair da Oficina Municipal do Teatro (OMT), o edifício onde a companhia O Teatrão reside. Anticorpos oferece duas possibilidades de trajecto aos espectadores, que são divididos em grupos e percorrem as salas do edifício. “A ideia era fazer do espaço um corpo e propor ao público que está acostumado a vir cá uma nova maneira de o ver”, explica o encenador, o francês Patrick Murys. Esse percurso, sublinha, também proporciona “uma intimidade que o grande palco não permite”.

A narrativa não é linear. Há um primeiro momento em que cada actor está sozinho numa divisão do corpo que é o edifício. Os solos acontecem em quatro espaços, desde salas de ensaios a camarins, e o objectivo é que o público “se interrogue sobre o corpo individual, sobre o que é o corpo, hoje”.

Estes momentos de maior proximidade com o público tiveram como ponto de partida uma conversa com os actores. “Quais são as tuas inquietações obre o teu corpo?” A discussão andou à volta da doença (mental e física), construindo depois o guião com elementos de ficção e autobiografia.

Depois da intimidade dos quatro solos, a deambulação acaba no palco principal da OMT. Aí dá-se o confronto com o inanimado: uma floresta de manequins. É por entre esse conjunto de figuras pálidas e inertes que os actores se vão movimentar. Mas o público continua dividido entre si, em caixas. Os ângulos de visão de cada grupo serão diferentes. “Ao mudar o olhar, muda a interpretação do que estamos a ver”.

Patrick Murys inspirou-se no texto Os Manequins, do livro As Lojas de Canela, de Bruno Schultz, para construir esta sequência de movimentos que orbita entre objectos antropomórficos. O encenador refere-se ao texto como “um tratado sobre como o inanimado nos obriga a encontrar soluções para ficarmos vivos”. É uma das interpretações possíveis sobre o capítulo do palco, tal como ver o manequim como metáfora do corpo perfeito. A sua rigidez frágil, em “que são colocados numa posição eterna até se partirem ou alguém os manipular”, é outra.

O encenador francês já trabalhou com marionetas, mas com os manequins o resultado é diferente. “É um objecto duro, difícil; não responde como uma marioneta”, nota. Contudo, é nessa barreira que pode residir uma possibilidade. “Isso agrada-me bastante, porque nos obriga a encontrar limites no corpo”. No capítulo final de Anticorpos, os limites são testados, com a exaustão dos corpos dos actores.

Tal como o humano é feito de camadas – pele, músculos, órgãos, ossos –, também o é Anticorpos, nas suas múltiplas possibilidades de leitura. Se se trata de uma peça sobre as várias dimensões do corpo, não deixa de ter uma mensagem sobre a fase que O Teatrão actualmente atravessa, depois de ter visto rejeitada a candidatura ao apoio tripartido da Direcção-Geral das Artes em 2015.

“Havia uma vontade de não ter um discurso directo sobre as interrogações que temos sobre o que é a cultura neste país, e sobre a situação deste grupo de teatro nesta cidade. Há uma vontade de traduzir isso noutras linguagens”, refere Patrick Murys.

Anticorpos é uma co-produção d’O Teatrão com a Câmara Municipal de Coimbra, e tem estreia esta quinta-feira, na OMT, às 21h00, ficando em cena até sábado, dia 3. 

 

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