Milhares protestaram em Bruxelas contra as políticas de Trump

Presidente norte-americano chegou na quarta-feira à capital belga, onde esta quinta-feira participa na cimeira da NATO. Alguns milhares manifestaram-se nas ruas contra a sua presença

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Reuters/CHRISTIAN HARTMANN

O Air Force One com Donald Trump a bordo aterrou esta quarta-feira pelas 16h15 (hora local) numa base militar próximo de Bruxelas. Quase ao mesmo tempo que o Presidente norte-americano chegava à capital belga arrancava uma manifestação que juntou vários milhares de pessoas – 9 mil, segundo a polícia – contra Trump e as suas políticas, e a favor da paz.

Mas o Presidente dos Estados Unidos não se cruzou – nem de perto – com os manifestantes. Bruxelas é por estas horas uma cidade em estado de segurança máxima e os percursos de Donald Trump são calculados com rigor e limitados a zonas da cidade altamente protegidas.

A circulação foi parcialmente cortada nalgumas zonas de Bruxelas por onde o presidente Trump vai passar. Há vários perímetros de segurança onde é proibido circular de automóvel, passar a pé ou até estacionar – como, por exemplo, nas proximidades da embaixada dos Estados Unidos onde se calcula que pernoite. Algumas estações de metro vão permanecer encerradas.

A presença policial e militar foi reforçada nos pontos nevrálgicos da visita. Há elementos das forças de segurança armados espalhados por várias zonas e veículos blindados e blocos de betão colocados por forma a impedirem o acesso aos perímetros por onde a comitiva norte-americana vai passar. 

Esta quarta-feira a cidade estava claramente despojada do habitual movimento não só devido às perturbações do trânsito que dissuadiu muitos de irem até ao centro, mas também por causa do feriado desta quinta-feira que terá levado outros bruxelenses a aproveitarem a “ponte” para sair da capital.

Alguns dos que ficaram em Bruxelas tiveram oportunidade de se manifestar pelas ruas e avenidas do centro da capital contra a presença do Presidente dos Estados Unidos sob o lema “Trump not welcome”. A concentração que juntou vários milhares de pessoas foi convocada por estudantes universitários e um grupo de organizações não governamentais de direitos humanos.

Ruidoso e colorido, o desfile decorreu sem incidentes, em ambiente de convívio. Muitos manifestantes tinham bandeiras de partidos políticos, associações e ONG. Outros participantes pertenciam a movimentos feministas ou de defesa do ambiente.

Alguns recorreram ao humor ou à sátira – com bonecos, caricaturas ou disfarces invocando o Presidente norte-americano –, outros empunharam cartazes e bandeirolas mordazes contra Trump. De resto, “não à proibição, não ao muro, não ao ódio” foram algumas das principais palavras de ordem.

“Estamos aqui para demonstrar solidariedade para com os Estados Unidos mas também para enviar uma mensagem clara ao presidente Donald Trump e à sua Administração”, explicou ao PÚBLICO Iverna McGowan, chefe da representação da Amnistia Internacional junto da União Europeia. “Não à proibição de [entrada de] refugiados, não à proibição de muçulmanos e na defesa firme dos direitos das mulheres. Esta é uma mensagem de solidariedade”, afirmou.

Entre os manifestantes estava uma delegação do Conselho Português para a Paz e a Cooperação. Helena Casqueiro sublinhou que a principal razão da presença esta quarta-feira em Bruxelas deve-se ao facto de a ONG portuguesa ser “contra todas as guerras, contra todas as guerras promovidas pela NATO e os seus aliados, a União Europeia e os Estados Unidos”.

Mas a manifestação não era só contra Trump – pretendeu também defender a paz no mundo. A organização Greenpeace desenrolou um cartaz gigantesco com a mensagem “Make peace great again”, uma indirecta a um dos slogans favoritos de Donald Trump (Make America great again).

O desfile resultou ainda num enorme leque de reivindicações quase para todos os gostos. A favor da solidariedade entre os povos, pela igualdade, contra as alterações climáticas, a favor dos refugiados. O cortejo também contou com a presença de muitos manifestantes de várias nacionalidades. Foi possível ver bandeiras de vários países, incluindo dos EUA.

Alguns mexicanos, preocupados com as relações com o vizinho do norte e com a intenção de Trump de construir um muro fronteiriço, não perderam a oportunidade de sair à rua para dizer o que pensam. “A eleição de Trump foi um enorme passo atrás na história”, afirmou ao PÚBLICO Raimundo Vazquez, um jovem mexicano a viver em Bruxelas. Em relação ao muro, o jovem não teve papas na língua: “É uma vergonha. Os mexicanos foram usados como bodes expiatórios [nos Estados Unidos].”

Ao mesmo tempo que a manifestação decorria, o presidente Trump foi recebido pelos reis belgas e teve um encontro de trabalho com o primeiro-ministro, Charles Michel. Esta quinta-feira, participa na cimeira da NATO com os restantes chefes de Estado e de governo da Aliança Atlântica.

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