Num jogo de Go, Google volta a marcar pontos para a inteligência artificial

Programa de computador que joga Go começou com uma vitória na partida contra o melhor jogador do mundo.

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Ke Jie é considerado o melhor jogador do mundo LUSA/STRINGER
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O objectivo do jogo é controlar mais área de tabuleiro do que o adversário LUSA/WU HONG
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Ke Jie diz que depois da partida vai concentrar-se em adversários humanos LUSA/WU HONG
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Kasparov perdeu contra um computador da IBM, numa partida em 2007 Reuters/BARBARA JOHNSTON

A inteligência artificial continua a somar pontos contra a humanidade. O software do Google para jogar Go – um milenar e complexo jogo de tabuleiro – ganhou o primeiro de três jogos frente àquele que é considerado o melhor jogador humano do mundo.

A partida está a decorrer na China, onde o Go nasceu. De um lado, está o software AlphaGo, que é desenvolvido pela Deep Mind, uma empresa subsidiária da Alphabet, a empresa-mãe do Google. Do outro, está o chinês Ke Jie, de 19 anos, que antes da disputa se tinha mostrado muito confiante. Depois de o AlphaGo ter derrotado um jogador de topo sul-coreano, em Março do ano passado, Ke Jie afirmara que seria capaz de levar a melhor sobre a máquina. O primeiro jogo parece ter sido o suficiente para mudar de ideias.

“No ano passado, [o computador] ainda era muito semelhante aos humanos quando jogava. Mas este ano tornou-se uma espécie de deus do Go”, afirmou Ke, citado pelo jornal The New York Times. O jogador disse ainda que, depois de terminar a partida (há mais um jogo nesta quarta-feira e outro no sábado), vai concentrar-se em jogar contra humanos e passar a considerar os computadores como ferramentas de treino e não adversários.

As afirmações de Ke indicam que o Go estará a seguir o mesmo caminho que o xadrez. Ambos os jogos envolvem pensamento estratégico, mas o Go, cujo objectivo é conquistar território no tabuleiro usando o posicionamento de peças (chamadas “pedras”), permite muitas mais combinações do que o xadrez, o que o torna um desafio mais difícil para computadores, que calculam um grande número de combinações para determinar qual a melhor jogada. Em 1997, o computador Deep Blue, da IBM, derrotou o lendário Garry Kasparov, dando início ao reinado dos computadores no xadrez. Hoje, nenhum humano é capaz de derrotar os melhores programas de xadrez e estes são usados para treino e análise de jogos por amadores e profissionais (Ke Jie, contudo, está a demonstrar mais desportivismo do que Kasparov teve há 20 anos).

Este tipo de duelos são habitualmente retratados como batalhas entre as inteligências humana e artificial, mas uma vitória das máquinas indica apenas que os programas de computador se tornaram melhores numa tarefa muito específica – não significa que se estejam a aproximar da diversidade de tarefas desempenhadas pelo cérebro humano, muito embora as técnicas usadas para ensinar Go a um computador possam ser transpostas para outras situações.

A inteligência artificial é um campo vasto, que tem muitas aplicações e é actualmente um dos temas quentes entre as empresas de tecnologia. Está a ser usada em sistemas que vão de carros autónomos a assistentes pessoais digitais. O aparecimento de máquinas inteligentes capazes de desempenhar tarefas humanas já levou os deputados europeus a reflectir sobre a necessidade de um imposto sobre este trabalho e a aflorar a questão de um rendimento básico universal.

A partida de Go – que as autoridades chinesas proibiram de ser transmitida em directo dentro do país – acontece poucos dias depois de o presidente executivo do Google, Sundar Pichai, ter dito que a empresa está a intensificar os seus esforços na área da inteligência artificial e pretende dotar todos os seus produtos de, pelo menos, alguma inteligência. “A computação está a evoluir novamente, de um mundo focado em mobilidade para um mundo focado em inteligência artificial”, afirmou então Pichai.

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