Está a ser testado glifosato na erradicação de infestante no Guadiana em Badajoz

Ambientalistas da Extremadura dizem que há “falta de transparência” nos ensaios com o herbicida e a Agência Portuguesa do Ambiente não sabe o que passa junto a Alqueva.

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Ao longo da última década, a Confederação Hidrográfica do Guadiana (CHG), entidade que gere a bacia do rio ibérico em território espanhol, recorreu às mais variadas formas e técnicas para combater o nenúfar mexicano no troço do rio Guadiana que atravessa Badajoz, mas sem resultados práticos. Faltava o recurso à desinfestação agroquímica. No início de Maio, a CHG avançou para o que designou “experiência-piloto” recorrendo ao glifosato numa área com cerca de 10.000 metros quadrados.

O glifosato, encontrado em marcas como a RoundUp, é amplamente utilizado na agricultura mas depois da Organização Mundial de Saúde ter dito que era “provavelmente cancerígeno” (embora outras instituições o neguem), tem crescido o movimento contra a sua utilização. Em Portugal já não é possível usá-lo em espaços públicos.

Em comunicado, a CHG disse que usaram doses “muito pequenas” de herbicida, que foram aplicadas com “pulverizador anti-chuvisco directamente nas folhas do nenúfar mexicano” para que não existisse “o risco do produto ser lançado na água” do Guadiana. O teste realizado incluiu a recolha de amostras de água após aplicação do herbicida mas “não foram detectados” resíduos de glifosato e do seu metabólito ácido aminometilfosfônico, garante aquela entidade.

O objectivo da experiência é o de saber se o tratamento efectuado afecta a raiz da planta exótica, tendo em vista a sua erradicação. Os dois herbicidas, refere a CHG, “estão classificados pelo Ministério da Saúde, Serviços Sociais e Igualdade espanhol como produtos não-tóxicos”, acrescentando tratar-se de “uma substância activa que não está proibida no mercado” e é “amplamente utilizado na agricultura, em explorações localizadas junto ao Guadiana”.  

Em resposta aos argumentos apresentados pela CHG movimentaram-se os Ecologistas en Acción, SEO BirdLife e AMUS, “em representação de todas as ONG ambientais da Extremadura”, para denunciar “a absoluta falta de transparência e a alegada ilegalidade” dos ensaios com glifosato no Guadiana. “Até na etiqueta do herbicida se adverte da importância de não utilizar este químico em qualquer fonte ou curso de água pela sua elevada toxicidade para os seres humanos e organismos aquáticos”, assinalam os ambientalistas. O próprio director-Geral do Meio Ambiente da Extremadura, Pedro Muñoz Barco, terá confirmado que o conselho consultivo do Meio Ambiente “não emitiu uma autorização expressa para o uso de glifosato no açude do Guadiana em Badajoz”, refere o comunicado das ONG.

Esta posição, reforçam os ambientalistas, foi assumida em várias ocasiões pelo Serviço de Conservação da Natureza, indicando que “não havia um parecer favorável à utilização desse produto químico em plena Rede Natura 2000, mas sim uma autorização para realizar ensaios com outras substâncias, como o peróxido de hidrogénio (água oxigenada)”.

Mesmo assim a CHG “insiste em dar continuidade à experiência-piloto que está a executar” e com “evidente intenção” de proceder a uma aplicação extensa deste herbicida para “tratar esta, ou quaisquer outras plantas invasoras”, assinalam os críticos da experiência.

Enquanto a troca de argumentos pró e contra a utilização do glifosato para erradicar o nenúfar mexicano decorre na região da Extremadura, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) adiantou ao PÚBLICO que “não foi informada da acção em causa”, embora diga que “tem acompanhado de perto as acções (de controlo de espécies exóticas invasoras aquáticas) desde 2012”.  

Neste sentido, a APA diz ter concertado, em 2015, uma parceria com a CHG e com a EDIA para “preparar e apresentar em Janeiro de 2016 uma candidatura ao Programa Interreg V-A Espanha-Portugal (POCTEP 2014 — 2020)”, aguardando-se “para breve a comunicação formal da sua aprovação”.

A APA reconhece que a presença e o desenvolvimento potencial deste tipo de espécies exóticas invasoras aquáticas em áreas da bacia hidrográfica do Guadiana, nas proximidades do território português, “constitui uma ameaça para os ecossistemas aquáticos e para a gestão da massa de água associada à albufeira de Alqueva”.     

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