Ciclovia na Alameda dos Oceanos: Sem consenso dos moradores, câmara de Lisboa quer ouvir propostas

Está em marcha um plano de reforma da mobilidade no Parque das Nações. Passadeiras são ser sobreelevadas e iluminadas e Alameda dos Oceanos vai ser o centro de uma zona 30 (De velocidade máxima).

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bruno almeida

E se Alameda dos Oceanos, que atravessa o Parque das Nações em Lisboa, tivesse menos duas vias para automóveis, uma em cada sentido, e esse espaço fosse destinado ao trânsito de bicicletas? A proposta da Câmara de Lisboa, apresentada esta quinta-feira aos munícipes, divide as opiniões. De um lado, os que aplaudem o projecto que quer “dar igualdade de oportunidades a quem se desloca de bicicleta”. Por outro, os críticos de uma proposta que, dizem, vai criar mais embaraço no trânsito e longas filas numa zona já congestionada.

Está nos planos da autarquia completar a ciclovia de cinco quilómetros na Alameda dos Oceanos, garantindo que todo o percurso “é ciclável e seguro, sem interrupções”, explicou Jorge Lavaredas, técnico do Departamento de Gestão da Mobilidade e Tráfego da Câmara de Lisboa. Os troços já existentes vão ser reabilitados. A proposta – que, para já, não passa disso – consiste em suprimir as duas vias rodoviárias interiores, na zona norte do Parque das Nações, para as destinar ao trânsito de bicicletas. A sul, a ciclovia vai ser feita no passeio, “dada a grande disponibilidade de espaço na zona pedonal”.

Face às críticas pela redução do espaço para automóveis, Jorge Lavaredas afirmou que esta solução privilegia “quem anda a pé, usa modos suaves ou tem mobilidade reduzida”, mas “não é uma atitude contra os carros”. “É uma questão de possibilitar a escolha”, resumiu. Segundo os estudos da autarquia, passam nesta alameda 900 carros por hora em hora de ponta.

Vários moradores, entre os quais Ana Fernandes, temem que a proposta apresentada “impeça que se saia de carro de casa”. “Entre as 8h e as 10h da manhã, com uma única via, o trânsito na Alameda vai estar simplesmente parado”, referiu a moradora. Os técnicos da autarquia garantem que esse cenário não é provável, mas até ao final da sessão os moradores mais críticos não ficaram convencidos.

Entre as contrapropostas apresentadas pelos munícipes está a criação de uma ciclovia mais estreita, que retire apenas uma via aos carros, no sentido sul-norte, considerado pelos moradores o menos congestionado. Mantinham-se assim as duas vias no sentido Loures-Lisboa. Esta proposta tem o apoio do arquitecto municipal João Castro, presente na plateia. A possibilidade da ciclovia ser colocada nas vias laterais da alameda ou no estradão junto ao rio são outras das propostas que receberam o apoio dos munícipes mais críticos.

Avenida D. João II é a alternativa

A intervenção tem ainda como objectivo que a Alameda dos Oceanos deixe de ser uma via de atravessamento para quem entra e sai de Lisboa. “A Alameda dos Oceanos deve servir os moradores”, concordam os vários intervenientes.

Qual a alternativa? A proposta do executivo é a Avenida D. João II, paralela à Alameda dos Oceanos. Segundo os técnicos, a circulação nesta avenida vai ser “optimizada”: “Vai ser resolvido o problema dos semáforos [que vão ser ligados ao sistema gestor de tráfego] para o trânsito fluir”. As mudanças nesta avenida vão acontecer ao mesmo tempo que decorrem as obras na alameda.

A nova ciclovia vai ligar, a norte, ao percurso ciclável de Loures que está a ser desenvolvido pelo concelho vizinho e, a sul, à Matinha, à pista ribeirinha. Inserida na rede ciclável de Lisboa, terá ligação à zona alta da cidade, pela futura pista dos Olivais, e a Marvila, apontou Jorge Lavaredas.

Está ainda prevista a criação de vias partilhadas noutras ruas da freguesia, a instalação de estacionamento para bicicletas e 15 postos da rede pública de bicicletas partilhadas. A Junta adiantou que está “para breve” um reforço da carreira 400 da Carris, que serve a freguesia.

Iluminar passadeiras: uma reivindicação antiga

Antes do plano chegar a estes moldes, o departamento fez um diagnóstico do tráfego na Alameda dos Oceanos. São recorrentes os acidentes e atropelamentos devido à velocidade excessiva dos automobilistas – só em 2015, 82 pessoas ficaram feridas com gravidade. Há problemas de drenagem, agravados por ser usada como via de atravessamento. “Queremos que esta alameda seja aquilo para que foi construída: uma via local”, explicou Jorge Lavaredas.

Para isso, vão ser adoptadas medidas de acalmia de tráfego. Na alameda, e vias que lhe dão acesso, a velocidade vai ser limitada a 30 km/hora. As passadeiras vão ser sobreelevadas, com pisos tacteáveis e com contraste para auxiliar peões portadores de deficiência, e iluminação vai ser reforçada com um sistema que activa a luz quando o peão se aproxima. A falta de luz, motivo de insegurança, é uma das preocupações “de há vários anos” de moradores e da Junta de Freguesia.

Em conjunto, todo a intervenção na mobilidade do Parque das Nações vai custar à autarquia entre 300 e 400 mil euros.

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