Ex-padre católico e activista homossexual muçulmano realçam contradições da religião

O evento foi promovido para assinalar o Dia Mundial de Luta Contra a Homofobia, a Lesbofobia e a Transfobia.

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Maria Eduarda Titosse, pastora da Igreja Evangélica Presbiteriana, lembrou que "as pessoas que pregam o amor deviam ser as primeiras a não discriminarem" NUNO FERREIRA SANTOS / PUBLICO/Arquivo

Um ex-padre católico, um activista homossexual muçulmano e uma pastora da Igreja Evangélica Presbiteriana realçaram esta quarta-feira, em Lisboa, as incongruências da religião, que, dizem, invoca Deus no amor às pessoas, mas discrimina homossexuais.

Krzysztof Charamsa (ex-padre católico polaco, homossexual e ex-funcionário do Vaticano), Wajahat Abbass Kazmi (activista homossexual muçulmano paquistanês) e Maria Eduarda Titosse (pastora na Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal) participaram hoje na conferência "Fé na Igualdade", organizada pela associação ILGA Portugal - Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo.

O evento foi promovido para assinalar o Dia Mundial de Luta Contra a Homofobia, a Lesbofobia e a Transfobia, que se comemora esta quarta-feira.

Maria Eduarda Titosse lembrou que "as pessoas que pregam o amor deviam ser as primeiras a não discriminarem", nomeadamente os homossexuais, assinalando que "a Igreja de Cristo deve defender os que a sociedade não acolhe".

A pastora evangélica frisou que Jesus Cristo "foi uma pessoa inclusiva" e que "na Bíblia não há nada que diga que outra pessoa tem de ser discriminada". "Vivemos na ditadura da maioria", sustentou, sublinhando que em instituições como a Igreja a maioria teme perder "os privilégios".

Wajahat Abbass Kazmi trabalha para a Amnistia Internacional em Itália, onde vive, e lançou a campanha "Allah Loves Equality" (Deus ama a igualdade), dirigida a lésbicas, homossexuais, bissexuais e transexuais muçulmanos. Enfrentou a família quando assumiu a sua homossexualidade e continua a ser muçulmano, e a agir como tal no seu a dia-a-dia, apesar da "hipocrisia da comunidade muçulmana", que, apontou, rejeita a homossexualidade. No Corão, o livro sagrado do Islão, porém, "não há qualquer referência à homossexualidade, não existe a palavra homossexualidade, vincou.

Para Krzysztof Charamsa, que começou "uma nova vida" aos 40 anos quando revelou publicamente que era homossexual, as religiões "não são lóbis [grupos de pressão que defendem determinados interesses] ou instituições".
"Não são pedras em que a palavra de Deus é usada contra as pessoas, são as pessoas", advogou.

O teólogo e autor do livro "A primeira pedra. E a minha revolta contra a hipocrisia da Igreja" criticou "a obsessão e a propaganda" da Igreja Católica contra os homossexuais, apesar de "a maioria dos padres no Vaticano ser homossexual".

O amor homossexual "não é amor humano" para a Igreja Católica, enunciou. À Lusa, numa breve declaração, Krzysztof Charamsa salientou que um padre católico que assuma a sua homossexualidade "perde tudo": nome, credibilidade, trabalho. O seu dever é "obedecer em silêncio".

Charamsa continua a definir-se como padre, por vocação, mas teve de dizer "basta" a uma Igreja, que, apesar de ser a sua "família", não tinha direito de o "ofender mais".

Na conferência, contou que apresentou publicamente o seu companheiro, com quem vive em Barcelona, como um "protesto teológico" contra a Igreja Católica, segundo a qual, afirmou, um homossexual "não tem capacidade para amar outra pessoa". E, referindo-se aos homossexuais, defendeu que todas as pessoas devem "ser ouvidas e respeitadas" no seio da Igreja, mas "com empatia e não com compaixão", cabendo "a toda a gente ter a coragem de dizer" que essas pessoas "necessitam de ser ouvidas".

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