Os brasileiros na ARCOlisboa são uma pequena maioria

Com menos um stand do que no ano passado, o Brasil continua a ser dos países mais representados na feira de arte contemporânea. Eduardo Brandão, da Galeria Vermelho, diz que a feira deu "uma ampliada" nos seus coleccionadores.

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A ARCOlisboa, que decorre até domingo, junta 50 galerias no programa geral. Nuno Ferreira Santos
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Nuno Ferreira Santos
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TIAGO PETINGA/LUSA

Cinthia Marcelle, a brasileira que acabou de ter uma menção honrosa na Bienal de Veneza, é um dos sete artistas que a Galeria Vermelho, de São Paulo, trouxe à ARCOlisboa, a feira de arte contemporânea que abre ao público esta quinta-feira, às 12h, na Cordoaria Nacional.

Encostadas à parede estão duas pás exactamente iguais, mas cujas marcas de tinta sugerem que foram usadas para “cavar” um balde de tinta branca. Marcelle, tal como fez em Veneza, reinterpreta espaços ou objectos do quotidiano, emprestando-lhes novos significados. O mesmo faz Lia Chaia, a artista em destaque no stand da Vermelho, com canos de PVC e cabos de diferentes tons de vermelho, numa escultura de parede intitulada Transfusão.

Mais do que juntar só nomes, de Nicolás Robbio a Marcelo Cidade, Eduardo Brandão, um dos donos da galeria, aponta para as obras da dupla Angela Detanico e Rafael Lain, bem como de Marilá Dardot, para explicar que tentou organizar uma presença à volta do texto e do livro, procurando uma coerência para o stand, e incluindo também artistas que têm desenvolvido o seu trabalho em Portugal. “No ano passado a feira foi boa para a gente, porque conhecemos outras pessoas. A feira deu uma ampliada nos coleccionadores”, afirma o galerista, explicando porque voltou nesta segunda edição da ARCOlisboa, que decorre até domingo e junta 50 galerias no programa geral.

Eduardo Brandão gosta de Lisboa e sente uma identidade com a arte portuguesa, que diz não procurar o espectacular, tal como o seu stand: “Vejo que a questão do desenho é importante, onde se subtrai a cor para entrar mais facilmente no contexto. O artista português não rodeia e traz o assunto muito directamente. Não fantasia, não é barroco. É uma lógica muito peculiar, mas em que fica claro o que quer. Sente-se na escultura, na pintura e na fotografia essa calma.”

A Galeria Vermelho é uma das quatro galerias brasileiras presentes este ano em Lisboa. Menos uma galeria do que na primeira edição de 2016, quando vieram cinco. Com 13 países representados, o Brasil é o país estrangeiro com mais presenças a seguir à Espanha, responsável pela organização da feira de Lisboa. Saíram as galerias Luisa Strina e Luciana Brito, dois pesos-pesados, e voltam as galerias Jaqueline Martins e Baró, além da Vermelho, todas de São Paulo. A nova entrada vem do Rio de Janeiro, com a Galeria Anita Schwartz, que faz parte do comité de selecção da ArtRio.

A galerista Jaqueline Martins regressou a Lisboa porque sente uma “vibe boa”. No seu stand, quis estabelecer um diálogo entre duas gerações, entre Dudu Santos, um nome histórico ligado à performance, e Ana Mazzei, que tem vindo a ganhar projecção internacional e mostra aqui as suas esculturas em madeiras, além de panos pintados: “Quis fazer um projecto que ainda traz uma referência conceptual, mas com mais cor e que não seja tão processual como o que geralmente apresento.”

A Galeria Anita Schwartz estreia-se com um stand histórico com obras de Abraham Palatnik e Wanda Pimentel, onde se destacam o relevo em cartão e as pinturas sobre ripas de madeira de Palatnik, um dos pioneiros da arte cinética, ou a pintura da série Envolvimento de Pimentel, de 1969.

A galerista Maria Baró, uma espanhola que vive há 20 anos em São Paulo, voltou porque acha a ARCOlisboa “uma feira com muito potencial de crescimento”. Além dos brasileiros, trabalha também com portugueses, como Pedro Vaz. “As pessoas na Europa gostam da cidade Lisboa e ir à feira é um bom plano de fim-de-semana.”

O escultor brasileiro Túlio Pinto, que regressa com a Galeria Baró e apresenta três esculturas em aço corten, pedra e vidro, é da opinião que a última edição “foi bem interessante”. “O seu trabalho ressoou”, explicando que vendeu duas das três peças de um stand inteiramente dedicado ao seu trabalho, a um coleccionador português e a outro belga. “Gosto desta feira porque ela tem uma escala mais humana.”

Sobre as galerias que não vieram este ano, Jaqueline Martins, que tal como na última edição incluiu o comité de selecção da ARCOlisboa, explica que as saídas se devem às estratégias que as galerias desenvolveram para 2017.

Ana Quiroga, uma das directoras da Luisa Strina, provavelmente uma das mais influentes galerias brasileiras, chama-lhe uma interrupção. Se em 2016 estiveram com um stand dedicado ao artista colombiano Nicolás Paris, que tinha acabado de expor no Museu Berardo, este ano não voltaram porque a agenda da galeria já estava um pouco cheia em termos de feiras. “Fizeram as duas feiras de Nova Iorque, a Frieze e a Armory, e segue-se agora Basel, que para nós é muito importante. A experiência em Lisboa foi muito bom e a gente espera voltar.”

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