Cartas ao director

De vitória em vitória até a glória final

Esta semana foram publicados os dados do INE relativamente ao crescimento da economia portuguesa, que atingiu os 2,8% do PIB no primeiro trimestre do ano. Este extraordinário valor foi alcançado graças ao comportamento extremamente positivo das exportações e ao aumento do tão ansiado investimento. Com taxas de crescimento acima dos 2%, a criação de postos de trabalho acelerou significativamente, o que se reflecte na redução da taxa de desemprego, que deverá chegar ao final do ano abaixo da barreira psicológica dos 10%. Afinal de contas, a reposição dos feriados, a reversão dos cortes de salários na função pública, a actualização das pensões ou o aumento do salário mínimo nacional não aumentaram o desemprego, não agravaram o défice externo e nem mesmo impediram o país de apresentar o terceiro maior excedente primário da zona euro. (...) A “geringonça” veio para ficar e, muito provavelmente, acabará a legislatura com um registo verdadeiramente impressionante.

João António do Poço Ramos, Póvoa de Varzim

O erro da desmistificação das crenças

Sejam “visões místicas”, “visões imaginárias”, “aparições”, “graça de Deus”, enfim, seja o que seja, a Igreja Católica não tem nenhum dever, nem moral nem racional, de desmistificar nada. Em Fátima aconteceu “alguma coisa” no dia 13 de Maio de 1917. Houveram razões histórico-políticas? Sim! Houveram razões do foro da ignorância dos fenómenos cósmicos e meteorológicos? Afirmativamente! Que adiantam estas “razões” da natureza da “lucidez dos doutos” para que ainda hoje cerca de um milhão de pessoas se dirijam à Cova da Iria para viverem na fé que “a nossa senhora apareceu e que este local me dá uma imensa energia”?

Sem sagrado nem mistério deixa de haver fé e religião. A sociedade intelectual reclama da hierarquia da Igreja uma racionalidade de onde só devíamos esperar segurança na fé e na esperança. Está na ordem das coisas e dos humanos acreditar e ter fé. E acreditar exige uma dosagem sensata de oculto, da utopia, da poiesis e do narrativo. (...)

Rui Devesa Ramos, Porto

O Papa esteve em Monte Real?

Passei os primeiros anos de vida em terrenos que agora são a Base Aérea N.º 5. Por isso, estive lá nestes dias 12 e 13, colado à rede da vedação para ver o Papa Francisco que poisava solo que anteriormente fora meu e dos meus vizinhos. Inutilmente. Vi GNR apeados, em viaturas, a cavalo — a minha aldeia, a Serra, onde está a base, nunca tinha visto GNR a cavalo. (...) Vi snipers encavalitados nos edifícios mais altos da unidade. Vi chegar, com ar de maus, um grupo de intervenção da Força Aérea a interpor-se no trajecto para a oração. (...) E vi uma multidão de populares, do lado de cá, que no dia-a-dia têm de suportar o ruído medonho das descolagens dos F-16 e os condicionamentos das "servidões militares" sobre as suas propriedades rústicas limítrofes, a quem não foi facultado acesso e com as caras contra o arame da vedação a tentarem disputar uma nesga para ver, mesmo à distância, o Papa. As felizardas das individualidades convidadas, feita a fotografia da praxe, foram às suas vidas. E aquele povo que sofre na pele e na fazenda os custos do funcionamento da base nem sequer por um canudo lhe foi dado ver o seu Papa. (...)

Joaquim Heleno, Monte Real

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