Economia já nem precisa de acelerar mais para chegar a 2% este ano

Primeiro trimestre surpreendentemente forte, com as exportações a crescerem mais que as importações, coloca economia a um ritmo superior às expectativas em 2017.

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Previsão de crescimento de 1,8% do Governo perto de ser ultrapassada LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Apenas um cenário em que, durante os próximos três trimestres, a economia recue e o PIB se contraia pode impedir que Portugal cresça pelo menos 2% durante o ano de 2017 face a 2016, superando a meta de 1,8% estabelecida pelo Governo e as projecções feitas até agora por entidades como o Banco de Portugal, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional.

A cada vez maior probabilidade de um desempenho acima das expectativas em 2017 é uma das consequências dos números conseguidos pela economia portuguesa durante os primeiros três meses deste ano. De acordo com os dados publicados nesta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o PIB acelerou no primeiro trimestre de 2017 para uma taxa de variação em cadeia (face ao trimestre imediatamente anterior) de 1%, superando as taxas de crescimento fortes que já tinha conseguido apresentar desde Junho do ano passado. Nos dois últimos trimestres de 2016, a economia tinha crescido em cadeia a uma taxa de 0,9% e 0,7%, respectivamente.

Quando a comparação é feita com o período homólogo do ano passado, torna-se ainda mais evidente a intensificação da aceleração do PIB a que se assiste desde meados de 2016. De um crescimento de 0,9% no primeiro semestre do ano passado, passou-se para 1,7% no terceiro trimestre, 2% no quarto trimestre e, agora, 2,8% no arranque de 2017.

A força desta aceleração da economia constituiu uma surpresa para quase todos aqueles que têm vindo a apresentar previsões. A Comissão Europeia, por exemplo, avançou na semana passada com uma projecção do crescimento do PIB português de 1,8% para o total de 2017. No entanto, bastaram uns dias para esta previsão parecer já bastante desactualizada.

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É que de acordo com o próprio cenário traçado por Bruxelas, a economia cresceria durante o primeiro trimestre deste ano apenas 0,4% em cadeia e 2,2% em termos homólogos, números que ficam bastante distantes dos 1% e 2,8% que acabaram efectivamente por se concretizar. Outras entidades privadas viram-se também forçadas a rever em alta as suas estimativas para o final do ano. É o caso do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI, que numa nota enviada aos seus clientes afirma que “espera agora que o PIB aumente mais de 2% na totalidade do ano”.

Do lado do Governo, que tal como a Comissão também aponta para um crescimento de 1,8% do PIB em 2017, o Ministério das Finanças, sem falar para já em revisão das suas previsões, afirma que os números publicados pelo INE "superam as expectativas traçadas pelo Governo no Orçamento do Estado para 2017 e no Programa de Estabilidade 2017-2021".

A verdade é que, com os números agora conhecidos do primeiro trimestre, a estimativa de um crescimento de 2% em 2017 deixou de ser uma aposta arriscada, que dependa da continuação de um crescimento forte na economia. De facto, mesmo que, nos últimos nove meses do ano, a economia estagnasse, registando nos três próximos trimestres taxas de crescimento em cadeia de zero, a variação do PIB em 2017 face a 2016 seria de 2%. Qualquer tipo de crescimento económico que venha a ocorrer nos trimestres seguintes garante desde logo uma taxa anual superior a 2%. E pensando de uma forma bastante mais optimista, se a economia conseguisse repetir nos três próximos trimestres a variação em cadeia de 1% agora registada, a variação anual do PIB dispararia para 3,5%.

Superar o tecto do euro?

Para encontrar uma variação trimestral homóloga do PIB idêntica à agora registada é necessário recuar quase dez anos até aos últimos três meses de 2007, período em que se verificaram os mesmos 2,8%. E para encontrar um valor mais alto, só voltando ao final do ano 2000, alguns meses depois da criação da zona euro, quando as taxas superavam os 3%.

Antecipar o que irá acontecer a seguir — continuação ou não da tendência desta aceleração — depende da confiança que se tem na sustentabilidade do crescimento actual. Desde que está na zona euro, em três ocasiões (em 2004, 2007 e 2010) a economia aproximou-se de variações trimestrais homólogas do PIB de 3%, mas acabou por não conseguir superar essa barreira. O que aconteceu nessas ocasiões foi que, devido a quebras abruptas da confiança das famílias, não foi possível prolongar a aceleração do consumo privado que estava a servir de motor do crescimento.

Agora o cenário tem características diferentes, uma vez que é nas exportações que está a explicação de uma parte importante da subida do crescimento. Sem ainda apresentar números, o INE afirma que, tanto na variação do PIB em cadeia como na variação homóloga, o contributo da procura externa líquida (exportações menos importações) passou de negativo para positivo, o que reflecte “a aceleração em volume mais acentuada das exportações de bens e serviços que a das importações de bens e serviços”.

Os indicadores do comércio internacional de bens têm vindo a apontar para taxas de crescimento das exportações expressivas, e é nas exportações de serviços, nomeadamente de turismo, que os resultados mais impressionantes têm vindo a ser obtidos.

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Em sentido contrário, o contributo da procura interna, embora mantendo-se positivo, diminui, tanto para a variação em cadeia como para a variação homóloga do PIB. Quando se compara o resultado do primeiro trimestre de 2017 com o de igual período do ano passado, o INE diz que se verifica uma desaceleração do consumo privado e uma aceleração do investimento.

Isto faz com que, para além daquilo que acontece ao consumo, a continuação da aceleração da economia para taxas de variação homólogas superiores a 3% depende da capacidade do país prolongar o bom desempenho ao nível das exportações, algo que pode ser ameaçado por factores externos. E, para dificultar as coisas, há ainda o facto de, na segunda metade deste ano, ser mais difícil fazer subir a taxa de variação homóloga do PIB, uma vez que a comparação será feita com os trimestres de 2016 que apresentaram desempenhos mais positivos. 

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