A lei de Murphy, mas ao contrário

Ontem inverteu-se um ciclo na economia. E com isso a lei de Murphy parece ter-se virado para a política. Melhor dizendo, para os líderes da oposição.

A lei de Murphy é uma velha conhecida dos editoriais dos jornais - mas normalmente recorremos a ela quando falamos da economia. Se não se lembra, aqui está a versão simples: “O que possa correr mal vai mesmo correr mal — e no pior momento possível”. Mas ontem inverteu-se um ciclo na economia. E com isso a lei de Murphy parece ter-se virado para a política. Melhor dizendo, para os líderes da oposição. 

Recapitulemos o que aconteceu no último ano. E não é preciso olhar para o Europeu de Futebol, para a vitória na Eurovisão, a visita do Papa ou para a nomeação de Guterres. Nos últimos meses, voltemos a eles, o Governo de esquerda cumpriu a meta do défice, conseguiu a melhor criação de emprego de sempre e registou o melhor crescimento trimestral da última década. Olhe agora para a frente: Portugal está prestes a largar os défices excessivos. E só lhe falta, para fazer bingo, que uma agência de rating tire Portugal do lixo.

No meio deste turbilhão de boas novas, regressa uma pergunta antiga: afinal, o modelo de Mário Centeno funciona? Passos Coelho e Assunção Cristas poderiam responder com a inversão dos pressupostos: este será mesmo o modelo de Centeno? E por que recupera a economia assim? 

Vamos ao pressupostos, portanto: claro que não é possível dizer, ao mesmo tempo, que o modelo económico que o PS levou às eleições deu resultado e afirmar, ao mesmo tempo, que ele foi anulado ou ajustado às pretensões da esquerda — ou de Bruxelas. Nem é possível dizer que este PIB vem direito da tabela de Mário Centeno quando assinalamos que o consumo abrandou, que o investimento recuperou e que e o turismo que está a puxar pela recuperação. 

Nada do que está acima escrito é certo — ainda é cedo para dizer que modelo é este. Mas podia apenas ser uma resposta da direita à onda de boas novas que parece chegar ao país. Podia, mas poucos ouviriam. Porque a direita nunca disse, antes disto, que o modelo de Centeno não está longe do seu; porque apostou cartas demais num falhanço imediato das esquerdas; porque se deixou fechar num discurso dos diabos, acreditando que o Governo não conseguiria equilibrar promessas com contas certas, devolução de rendimentos com crescimento saudável.

E voltamos à lei de Murphy: o que puder correr mal vai mesmo correr mal, no pior momento possível. Para Passos Coelho aproximam-se as autárquicas e um congresso para a reeleição. Com este clima, sem um projecto claro, positivo e alternativo, ou os astros mudam de alinhamento ou o líder se arrisca a um eclipse.

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