Contra as importações, marchar, marchar?

Independentemente de um país exportar mais ou menos do que importa, é de maior interesse o facto de o país ter efetivamente empresas exportadoras.

“Fomentar exportações e atrair investimento é essencial” 
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República

 

No debate público, é sempre realçada a importância das exportações e deixadas na sombra as importações. A maior parte das pessoas associa as trocas com o estrangeiro com o nível de competitividade do país. Importa clarificar esta conotação negativa das importações.

Os últimos anos educaram-nos a sentir entusiasmo com saldos positivos da balança comercial e a julgar pesarosamente défices passados. Existem, no entanto, várias questões interessantes quando falamos de comércio internacional, que não se esgotam na mera diferença entre o valor dos produtos exportados e o dos importados. Qual é o papel das importações e exportações? Poderá qualquer país ter uma balança comercial superavitária? Como se traduz esta reflexão no espaço europeu?

Em primeiro lugar, pensar em comércio internacional é crucial. Em teoria, o benefício de exportar o que produzimos é a oportunidade de poder importar outros produtos. Esta não é uma frase que entra em desuso quando nos viramos para a prática. A verdade é que pelo facto de termos maior abundância de determinados recursos, condições climatéricas, desenvolvimentos tecnológicos ou know-how, Portugal tem maior aptidão para produzir determinados produtos - veja-se o exemplo da cortiça, que atingiu recordes de exportação em 2016. Não menos verdade é o oposto: o país pode não conseguir produzir certos bens. Deste modo, as importações não são negativas, aumentam o acesso dos consumidores a determinados produtos.

No final de contas, estamos a falar de um mercado que corresponde a todos os países do mundo, em que a nossa oferta nacional pode encontrar procura no nosso país ou em qualquer outro para o qual está a exportar. Analisando nesta perspetiva, importação é apenas a nossa procura a encontrar uma oferta que se traduz, para os produtores portugueses, em produzir outros bens com maior produtividade, e para os nossos consumidores, numa procura por bens a menores preços ou com maior qualidade no bem que compram.

Intuitivamente concluímos que nem todos os países podem ter saldos positivos das balanças comerciais. Saldos positivos em determinados países refletem-se em saldos negativos em outros, até porque, a nível global, o valor das exportações tem de equivaler ao valor das importações. Deste modo, podemos evidenciar uma correspondência entre saldos comerciais muito positivos e saldos comerciais muito negativos.

No Espaço Europeu este tema toma especial relevância, em dois pontos. Um é o facto de, em média, metade das trocas internacionais serem intracomunitárias; o outro é a existência do Mercado Único Europeu que não permite impor barreiras às importações e exportações. Considerando apenas trocas intracomunitárias, segundo os valores do Eurostat para 2015, o espelho dos superavits comerciais de países como a Holanda, Alemanha e Bélgica, são os deficits comerciais do Reino Unido, França e Suécia. É importante referir que os países com menores valores de balança intracomunitária apresentam uma grande percentagem das trocas com estados-membros e um valor reduzido com outros países fora da União Europeia. Analisar trocas comerciais, é, portanto, uma discussão na qual se deve olhar para as implicações para Portugal e os efeitos das decisões do país, mas também as repercussões do comportamento dos restantes países. Decidir o que é melhor para o país no contexto de União Europeia é decidir o que é melhor para a comunidade no seu todo. Esta dimensão europeia da política é necessária para uma Europa sustentável.

Por último, independentemente de um país exportar mais ou menos do que importa, é de maior interesse o facto de o país ter efetivamente empresas exportadoras. Segundo um artigo científico recente (2017), “The Impact of Exports on Innovation: Theory and Evidence”, no qual se incluem entre os autores Economistas de Harvard, as exportações de um país têm impacto no nível de inovação de um país. O estudo revela que um aumento do mercado de exportações de um determinado produto aumenta os incentivos das empresas mais produtivas para inovar. Um país ter empresas exportadoras em determinada área pode significar assim um crescente desenvolvimento e seleção natural de empresas.

Neste artigo analisámos três dimensões diferentes da balança comercial. A visão corrente, que contrapõe uma visão positiva das exportações e uma negativa das importações, concluindo que as exportações existem para podermos importar, sendo conceitos que se complementam. Em segundo lugar, evidenciámos que, considerando todos os países, as balanças comerciais se anulam; isto implica que ao nível individual, se uma balança é superavitária, haverá outra deficitária. A última dimensão focou-se nas exportações. É relevante olhar para esta componente e para a sua composição. Considerando a causalidade entre exportações e inovação, é possível descobrir potencial de crescimento em determinadas indústrias. 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários