Obama desaconselhou Trump a nomear o general Flynn

O ex-Presidente deixou o alerta no primeiro encontro na Casa Branca, dois dias depois das presidenciais, e um mês antes da conversa que ditou a demissão do conselheiro nacional de segurança.

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Flynn foi forçado a demitir-se após revelação de que discutiu sanções à Rússia com o embaixador de Moscovo Carlos Barria/Reuters

O ex-Presidente norte-americano, Barack Obama desaconselhou o seu sucessor a incluir o antigo general Michael Flynn na sua Administração, no primeiro encontro entre os dois na Casa Branca, apenas dois dias após as eleições. Um aviso que Donald Trump ignorou, nomeando-o conselheiro de segurança nacional – cargo que foi obrigado a abandonar menos de um mês depois, após a revelação de que tinha discutido com o embaixador russo em Washington as sanções em vigor contra Moscovo.

A informação foi avançada por três funcionários da anterior Administração ouvidos pela cadeia de televisão NBC, revelando que, no encontro de 10 de Novembro, Obama terá dito a Trump que o antigo general não era indicado para ocupar um cargo de elevada responsabilidade no governo norte-americano. O ex-Presidente tinha afastado Flynn da chefia da Agência de Informação de Defesa (secreta militar) em 2014, descontente com falhas de gestão e o temperamento irascível do general, que acabaria por tornar-se um dos primeiros apoiantes da candidatura presidencial de Trump e um dos seus principais conselheiros.

Segundo as mesmas fontes, que falaram sob anonimato, a reunião da Casa Branca aconteceu ainda antes de terem surgido as primeiras dúvidas sobre os contactos entre Flynn e Sergei Kisliak – o telefonema que acabaria por levar à sua demissão, e que foi interceptado pelo FBI, aconteceu em Dezembro, quando os dois falaram sobre as sanções que Obama acabara de decretar contra Moscovo em retaliação pela suposta interferência russa nas eleições. Na sexta-feira, o Washington Post, o jornal que primeiro noticiou o caso, revelou que no final de Novembro a equipa de transição de Trump avisou o general sobre o risco de continuar os contactos com o embaixador russo, alertando-o para a elevada probabilidade de as conversas estarem a ser vigiadas pelas secretas americanas.

O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, confirmou que Obama falou de Flynn na conversa na Casa Branca, mas apenas para dizer que “não era um fã” do general.  Um outro elemento da equipa presidencial disse à mesma estação que o aviso do ex-Presidente foi feito de forma “jocosa”.

O próprio Presidente, numa clara reacção à notícia, escreveu na sua conta de Twitter que “a Administração Obama deu ao general Flynn o mais alto nível de autorização de segurança, mas a Fake News raramente gosta de falar disso”.

As revelações surgem no mesmo dia em que a Sally Yates – que assumiu interinamente o cargo de procuradora-geral até ser demitida por se opôs ao primeiro decreto de Trump que visava barrar a entrada no país a cidadãos de sete países muçulmanos – e o antigo czar das secretas americanas James Clapper vão comparecer na subcomissão do Senado que está a investigar as ligações de Flynn à Rússia.

Segundo a imprensa norte-americana, Yates deverá confirmar aos senadores que avisou um dos conselheiros de Trump de que Flynn não estava a falar verdade quando negou ter discutido com Kisliak as sanções adoptadas contra Moscovo – algo que lhe estava vedado, uma vez que à data da conversa não era ainda funcionário da Administração, que só tomou posse em Janeiro. Antecipando o revés, o Presidente usou o Twitter para atacar a antiga procuradora, sugerindo que terá sido ela a passar as suspeitas ao Washington Post

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