Será que as notícias estão a contribuir para o problema Baleia Azul?

Especialistas ouvidos pelo PÚBLICO aconselham a que se promova o debate, mas alertam para “efeitos nocivos” de um noticiário baseado na mera descrição de mais casos. Documento de esclarecimento sobre o jogo vai ser distribuído nas escolas.

Foto
Maria João Gala

Numa semana multiplicaram-se as notícias dando conta de jovens internados na sequência de autolesões alegadamente provocadas pelo jogo Baleia Azul. Estarão elas a ter um efeito de contágio? “O problema não é noticiar, mas sim como noticiar”, afirma o psicólogo Pedro Frazão, membro da Sociedade Portuguesa de Suicidologia, que alerta para a possibilidade da multiplicação das notícias sobre casos concretos poder provocar, como sucede com o suicídio, “um fenómeno de identificação por parte de quem está em sofrimento”, para além de dar a ideia que se está frente a uma “epidemia incontrolável”.

Notícias desenquadradas, apenas dando conta de mais casos, “não têm nenhuma vantagem, só causam alarmismo social, o que não vai resolver a situação”, alerta o pedopsiquiatra Augusto Carreira, que considera que o fenómeno está a ser tratado de “forma sensacionalista”, o que pode ter “efeitos nocivos”. Mas este especialista também considera que os media têm um papel importante a desempenhar para lançar um debate que procure encontrar o que está por detrás de comportamentos como os das alegadas vítimas do jogo Baleia Azul.

“Porque é que alguns jovens adoptam comportamentos autolesivos? O que é que os leva a magoarem-se?”, são alguma das questões propostas por Augusto Carreira, que lembra a propósito que este não é um fenómenos novo. “Os comportamentos autolesivos entre os jovens têm vindo a aumentar a nível internacional.”

Em Portugal são conhecidos sete casos de jovens que recorreram aos hospitais na sequência de autolesões alegadamente praticadas depois de terem tido contacto com o jogo Baleia Azul. Até esta quarta-feira, a Polícia Judiciária estava a acompanhar quatro destes casos e indicou que iria seguir aqueles que entretanto fossem surgindo.   

Augusto Carreira diz que os jovens que aceitam os desafios colocados por este jogo são pessoas “frágeis, que são facilmente capturáveis pelas redes sociais”. Por isso, é necessário também alertar os pais para procuraram “saber o quer é que os filhos estão a fazer no escuro do quarto, frente a um computador”, frisar que é "muito importante que conversem com os filhos” e que “promovam outros estilos de vida mais saudáveis”.

Fenómenos como o deste jogo vão abranger sobretudo pessoas que “já estão em situação de sofrimento” e por isso é também preciso alertar para os sinais que podem revelar que os jovens estão em depressão ou em risco de suicídio, diz Pedro Frazão, frisando que os técnicos de saúde têm neste campo um papel fundamental não só na identificação, como na prevenção. “Não se pode passar a mensagem de que estes são factos consumados, porque não o são”, alerta.

Também o psiquiatra Álvaro Carvalho, coordenador do Programa Nacional de Saúde Mental, considera que as notícias sobre o jogo Baleia Azul têm de ser enquadradas, embora considere que fenómenos como o deste jogo não são equiparáveis, em termos de contágio, aos do suicídio. “É preciso alertar a opinião pública, esclarecer, lançar o debate e esse é um papel que também cabe aos media”, acrescenta.

Álvaro Carvalho revela que a Direcção-Geral de Saúde e a Direcção-Geral de Educação elaboraram já um documento com vista a esclarecer os pais e professores sobre o que é este jogo e os perigos que representa. Este documento, diz, deverá começar a ser distribuído nas escolas em breve. 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários