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Os vendedores têm as técnicas todas mas nós, os potenciais compradores, também somos cada vez mais desconfiados.

Quando comprámos uma máquina de lavar coreana fomos insultados por uma vendedora que insistia que deveríamos comprar uma alemã. Berrou que tinha 30 anos de experiência e que nós éramos parvos por confiar na Internet.

A medo, passados uns tempos, voltámos à loja, desta vez para comprar uma máquina de secar porque a velha tinha avariado e custava 200 euros para arranjar. Tivemos a sorte de apanhar um vendedor que quis saber qual era a marca da nossa máquina. Dissemos: era alemã. O senhor, prestes a vender-nos uma máquina coreana, parou de repente e aconselhou-nos a voltar para casa. Disse-nos que valia a pena pagar a reparação — era apenas substituir a resistência — porque saía mais barato e, na expressão imortal de todos os profissionais de vendas que alguma vez exerceram em Portugal, ficávamos mais bem servidos.

Impressionada, a Maria João lembrou-se logo de cada uma das empregadas de lojas que tinham sido boas samaritanas com ela. A fórmula era classicamente diplomática: "Precisa mesmo deste casaco?" Precisar, quando é bem usado, é um verbo muito forte. Como a resposta era invariavelmente "não", a empregada aproveitava então para aconselhar que a cliente esperasse até encontrar um casaco de que realmente gostasse ou, segundo a indizível implicação, lhe ficasse melhor.

Os vendedores têm de vender para viver e é crasso acusá-los de serem bons profissionais. Eles têm as técnicas todas mas nós, os potenciais compradores, também somos cada vez mais desconfiados. Até ver.

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