Figuras públicas apelam à Gulbenkian para deixar o petróleo

Francisco Louçã, Manuel Alegre e Paulo Morais são alguns dos subscritores de uma carta aberta que desafia a fundação a desfazer-se dos seus activos no sector dos combustíveis fósseis.

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Gonçalo Santos

Cerca de quarenta personalidades dos meios políticos, académicos e culturais assinaram uma carta aberta à Gulbenkian, apelando ao respectivo conselho de administração – cuja nova presidente, Isabel Mota, tomará posse a 3 de Maio – para que “trabalhe numa estratégia de saída dos seus activos relacionados com combustíveis fósseis”.

Assinado, a título individual, por políticos como Francisco Louçã e Fernando Rosas, do BE, Manuel Alegre e Pedro Bacelar de Vasconcelos, do PS, e ainda por Paulo Morais, ex-candidato à Presidência da República, mas também por académicos e figuras do cinema, do teatro ou da música, o documento defende que “a transição para uma economia descarbonizada é agora um imperativo incontestado” e sugere que a Gulbenkian siga o exemplo do Rockefeller Brothers Funds, que em 2014 “decidiu não investir mais em combustíveis fósseis, assumindo o seu compromisso no combate às alterações climáticas, ao mesmo tempo que libertava as suas acções filantrópicas nas mais variadas áreas deste enorme estigma”.

Num texto sem qualquer acrimónia, e que reconhece o muito que o país deve à Gulbenkian, antes e depois do 25 de Abril de 1974, os subscritores dizem estar conscientes de que, ainda hoje, “uma parte considerável dos activos que permitem a acção da fundação são activos petrolíferos”, mas apelam ao seu conselho de administração, “no momento em que toma posse a nova presidente”, para que assuma o objectivo de abandonar os seus negócios no sector.

Os académicos e colunistas André Freire e Viriato Soromenho Marques, o cineasta António-Pedro Vasconcelos, os actores Maria do Céu Guerra e Joaquim Almeida, os músicos Carlos do Carmo, Sérgio Godinho e Jorge Palma, ou os escritores Lídia Jorge e Rui Cardoso Martins são alguns dos signatários desta carta, que incluem ainda, entre outros, a presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Río, o ex-responsável da CGTP Manuel Carvalho da Silva ou a dirigente da associação Apre!, Maria do Rosário Gama.

Apesar da relevância histórica dos activos petrolíferos na vida da fundação, a fatia que o negócio do petróleo representa no orçamento da Gulbenkian veio já decrescendo significativamente ao longo dos últimos anos. “Os activos de petróleo e gás representam cerca de 20 por cento dos activos geradores de rendimento”, informou a fundação, que, na ausência do ainda presidente Artur Santos Silva, não quis por enquanto reagir a esta carta, que só será formalmente divulgada na quinta-feira.

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