Jovens: o mundo e o futuro

Para bem desta geração de jovens portugueses, não podemos facilitar.

Duvido de que os atuais jovens tenham, ao olhar o futuro, uma noção do que os espera. Na verdade também duvido que os atuais adultos a tenham. O objetivo central da formação dos jovens não é prepará-los para o presente. É prepará-los para o futuro.

As próximas décadas emergirão num mundo em profunda mutação. Delinear-se-ão novos riscos e novas oportunidades, que confrontarão a geração dos atuais jovens e que exigirão deles um conhecimento cosmopolita e interdisciplinar e uma enorme criatividade para reinventar o “ecossistema” global e local em que viverão e trabalharão. É crucial que eles adquiram uma perceção estratégica e proactiva do mundo diferente que os espera. Será o nosso sistema educativo eficiente nessa preparação? Em minha opinião, não. Muitos currículos estão desfocados das necessidades do presente e ainda mais das exigências do futuro. Uma ministra retirou imensa autoridade aos professores. E será positivo ver uma geração de pais em que muitos se demitiram de educar os seus filhos e vêem nas escolas um conveniente depósito de crianças e jovens?

Para bem desta geração de jovens, não podemos facilitar. Há um século a Europa continha um quarto da população global e controlava a maior parte do mundo através dos onipresentes impérios coloniais. Os jovens europeus sentiam-se protegidos e confiantes no futuro. Agora, a União Europeia representa apenas 7% da população mundial. A Europa definha demograficamente mas o resto do mundo cresce fulgurantemente. Entre 1950 e 2050, a população mundial terá triplicado. Outros valores, outros modelos e outros poderes ascenderão nas próximas décadas. E outros jovens.

A Europa tem, agora, menos 43 milhões de jovens com menos de 25 anos do que em 1950. Os jovens europeus com menos de 25 anos representam apenas 6% desse grupo no plano mundial. Não chegam aos 200 milhões mas nas suas vidas terão que competir com outros jovens da mesma faixa etária, que são 1800 milhões só na Ásia e 2800 milhões no conjunto dos países em desenvolvimento. A idade média da população da Europa é de 42 anos mas a da Ásia é de apenas 30 anos e a da África é de 19 anos. A juventude portuguesa, que frequentemente é despreocupada e pouco consciente do futuro e do mundo, tem que se preparar para conviver e competir em vida real num mundo muito diferente.

Seria perigoso presumir que a juventude dos outros continentes será, como nos últimos séculos foi vista, pobre e irrelevante. Os países em desenvolvimento ascendem explosivamente não apenas demográfica mas também económica e tecnologicamente. Enquanto a Europa se tornou na região do mundo com mais débil crescimento económico, aqueles países projetam-se. Em 2016, a economia da União Europeia cresceu 1,7% mas a da Ásia em desenvolvimento cresceu quase ao quádruplo da velocidade. O problema da Europa não é a “crise global”, é ela própria. As nações em desenvolvimento criam prosperidade, competidores, consumidores e tecnologia a um ritmo impressionante e já representam mais de metade da economia mundial. Os jovens fora da Europa estão a educar-se e a prosperar. Em nada serão irrelevantes. Estão disso conscientes os nossos jovens?

O estudo PISA, realizado pela OCDE para comparar os conhecimentos dos jovens num grande número de países, costumava apresentar países europeus no topo desse ranking internacional. Agora, os primeiros lugares são ocupados por países asiáticos em todos esses rankings (ciência, matemática e leitura). Os sete países cujos jovens são os mais bem preparados em matemática são asiáticos. Esta é uma antecâmara do novo mundo em que os atuais jovens portugueses terão que sobreviver e competir. Não, a aprendizagem da juventude não é uma irrelevância. Os competidores dos nossos jovens serão fortíssimos e muito preparados.

Os jovens portugueses tendem a imaginar que a Europa é a pioneira da tecnologia. Mas muitas marcas globais europeias estão a ser destronadas por novos competidores asiáticos, designadamente nas tecnologias da informação. A tecnologia é agora acessível mais democraticamente. As dimensões globais mudaram e o centro de gravidade de quase tudo está fora da Europa. O número de utilizadores da Internet na Ásia é quatro vezes maior que toda a população da União Europeia.

Enquanto alguém que se ausente de Portugal durante um ano constata que nada realmente mudou, no mesmo período registam-se mudanças alucinantes de melhoria na generalidade dos países em desenvolvimento, em particular na Ásia.

Não há apenas uma numérica desproporção gigantesca entre os jovens da Europa e os do resto do mundo. Enquanto as condições de vida, as perspetivas de emprego e as esperanças de futuro pioram progressivamente para os jovens portugueses, elas melhoram vibrantemente noutros continentes. Os jovens portugueses ignoram quase totalmente esta realidade comparativa, enquanto a maioria dos políticos vive num universo paralelo em que impera um misto de grave desconhecimento e de negação das realidades.

Com maior prosperidade, as economias emergentes adquirem poder tecnológico e político. O centro de gravidade do poder mundial desloca-se do Atlântico Norte para o Pacífico. É a Europa que mais perde. Nada se resolve com grandes tratados tão majestosos como desinteressantes. A solução reside nos cidadãos, que são marginalizados.

Em síntese, o mundo mudará radicalmente. O ambiente em que os atuais jovens se inserirão exigirá deles a capacidade de compreender as mudanças e de reinventar o cidadão e a sociedade. Essa reinvenção não será gerada nos decrépitos corredores da política convencional. Sê-lo-á pelos cidadãos. Vamos já muito atrasados para o fazer, mas perder ainda mais tempo no contexto das ridicularias com que os políticos e os media do nosso país se deslumbram diariamente piorará ainda mais as perspetivas do futuro dos nossos jovens.

Os jovens do presente terão que estar fortemente preparados para serem os melhores, sob pena de perderem devastadoramente na interação com os do resto do mundo, não só na economia e na criação de prosperidade e emprego como também na cultura, na tecnologia, na inovação e no bem-estar. Estão estes jovens preparados para esse desafio?

O autor escreve segundo as normas do novo Acordo Ortográfico

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