Morreu jovem de 17 anos que estava internada com sarampo

Adolescente internada no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, não estava vacinada. Director-geral de Saúde diz que a situação está controlada em Portugal, sendo até "motivo de inveja" no estrangeiro.

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Jovem estava internada no Hospital de D. Estefânia desde segunda-feira Nuno Ferreira Santos/Arquivo

A adolescente de 17 anos internada com sarampo morreu durante a madrugada desta quarta-feira. De acordo com o Hospital Dona Estefânia, unidade de Lisboa onde estava internada, a jovem morreu "na sequência de uma situação clínica infecciosa com pneumonia bilateral — sarampo". Segundo o ministro da Saúde, "não estava protegida do ponto de vista imunitário".

A jovem tinha sido contagiada com sarampo no Hospital de Cascais por uma bebé de 13 meses que não estava vacinada. Foi transferida para o Hospital de D. Estefânia na segunda-feira, devido ao agravamento do seu estado de saúde.

A jovem fazia parte de um grupo de seis doentes contaminados, dois deles pediatras da unidade de saúde de Cascais. No domingo, a directora desse hospital garantia, em declarações ao PÚBLICO, que nenhum dos doentes contaminados corria risco de vida. Esta segunda-feira, o estado clínico da adolescente agravou-se e teve de ser transferida para que pudesse estar num quarto com pressão negativa para garantir o isolamento.

A doença, que estava praticamente erradicada em Portugal desde 1994 e cuja eliminação tinha sido reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no Verão do ano passado, está agora a reaparecer devido aos pais que optam por não vacinar as crianças. Só desde Janeiro, foram identificados pela OMS mais de 500 casos de sarampo na Europa.

Não obstante, o director-geral da Saúde, Francisco George, apelou à confiança e afirma que, em Portugal, a propagação do vírus enfrenta uma elevada resistência. “O fogo não encontra força para se propagar perante a água”, diz, para assinalar a eficácia da vacinação contra a doença. “A nossa situação tem sido relatada no exterior e motiva inveja”, afirmou Francisco George, esta quarta-feira, numa declaração pública com o ministro da Saúde.

O médico citou o exemplo italiano, onde foram identificados cerca de 1500 casos de sarampo, um número substancialmente superior aos 21 casos de sarampo confirmados em Portugal (e 18 em investigação), acrescentou. “Nunca teremos uma epidemia de grande escala. Não tememos cenários de uma grande epidemia como aquela que acontece em Itália”, garantiu. É de referir, no entanto, que a população italiana é cerca de seis vezes superior à portuguesa.

“Estávamos e estamos mais serenos do que nos outros países porque esses movimentos [de não vacinação] não têm grande expressão em Portugal”, continua. “O vírus do sarampo propaga-se desde que os grupos populacionais não estejam vacinados e isso não acontece em Portugal. Porquê? Porque há mais de 50 anos começámos um programa de vacinação muito robusto e muito bem conseguido.”

Francisco George afirmou que a cobertura da vacinação em Portugal ultrapassa níveis superiores a 96% e que o próximo passo será “trabalhar em conjunto com o Ministério da Educação e com as agências centrais do Ministério da Saúde”.

"Confiem na ciência"

“A questão do sarampo é uma questão que não constitui fenómeno inesperado”, começou por assinalar o médico. “Nós sabíamos da existência de bolsas de crianças [não vacinadas] em determinados países europeus que permitiram a circulação do vírus”, explica o director de Saúde.

O Programa Nacional de Vacinação é recomendado pelas autoridades de saúde, mas as vacinas não são obrigatórias, uma discussão que, para já, Francisco George afasta. “Não interessa agora saber se as vacinas são ou não obrigatórias. As vacinas estão disponíveis, e as crianças devem ser imunizadas”, sublinhou. “Não temos problemas de falta de vacinas.”

O director de Saúde detalhou que os serviços do Infarmed confirmaram esta quarta-feira a existência de uma “reserva estratégica” de 200 mil doses de vacina, destacando a preparação das autoridades de saúde para uma possível epidemia. Ainda assim, o médico insiste que “não é preciso correr, não é preciso ir ao hospital”, e que “há que ter confiança nos serviços”.

Já o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, apontou o dedo à responsabilidade dos cidadãos que, com base em "movimentos injustificados e irracionais, do ponto de vista técnico", rejeitam a vacinação. “É tempo de parar com as opiniões e especulação em torno da evidência científica”, vincou. 

"Não julgamos pais, não fazemos juízos de valor. Por vezes, por falta de informação, são levados a tomar as medidas erradas. O valor da vacina é superior à vantagem individual", acrescentou o ministro.

Numa nota, o Centro Hospitalar de Lisboa Central acrescenta que "a família acompanhou toda a evolução da situação clínica e o CHLC, com tristeza, lamenta a ocorrência e presta, publicamente, os seus sentidos pêsames".

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