Apelos nas redes sociais para doar medula óssea? Deixe-se disso, diz ministério

Ministério da Saúde entende que apelos podem ser contraproducentes e número de dadores que se deslocam aos serviços é impossível de controlar. País já tem um dos maiores registos do mundo de potenciais dadores

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Ministério da Saúde defende o fim das campanhas que visam obter dadores para doentes específicos CLAUDIA ANDRADE

Na próxima vez que estiver nas redes sociais e esbarrar num apelo para doar medula óssea, pense duas vezes antes de correr para o Instituto Português do Sangue e da Transplantação . Pode ser contraproducente, alerta o Ministério da Saúde.

No início de Março chegou ao Parlamento um requerimento de audiência enviado por um grupo de cidadãos. No documento, afirmam que há “técnicos do Instituto Português do Sangue e da Transplantação a desencorajar” potenciais dadores de medula, “sistemática falta de material para colheita de sangue”, “prioridade atribuída aos dadores de sangue” e “respostas incorrectas e pouco diligentes a quem se voluntariou para organizar sessões para registo de medula”.

Os subscritores foram recebidos na Assembleia da República por uma deputada do PS e por um deputado do PCP. No início de Abril, o grupo parlamentar do PCP endereçou uma pergunta ao Ministério da Saúde. Paula Maia Fernandes, chefe de gabinete do ministro da tutela, respondeu que “os problemas com a inscrição de potenciais dadores de células progenitoras hematopoiéticas estão identificados”. “São mais de índole externa”, assegura, dando o exemplo de “apelos que levam à mobilização de um grande número de pessoas num curto espaço de tempo”.

Na nota enviada ao gabinete do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Paula Maia Fernandes lembra que há países que proíbem a exposição pública de pacientes e mesmo estas formas de recrutamento de potenciais dadores. E que o instituto “é manifestamente contrário ao desenvolvimento de apelos para doentes”. É que, afirma, estas formas de mobilização podem ser "contraproducentes".

O número de dadores que se deslocam aos serviços a reboque destas campanhas é impossível de controlar. Face à pressão que exercem, aumenta o risco de não lhes ser fornecida toda a informação necessária. Nem todos percebem o que ser dador implica. A decisão de inscrição pode ser uma resposta emocional, não ponderada, ao apelo e até partir “da noção falsa de que uma pessoa pode inscrever-se para ser dadora de um determinado doente”. E quem assim age “mais facilmente pode desistir”.

Não é só essa falsa ideia de que uma pessoa pode inscrever-se para doar medula a um doente concreto, que viu no Facebook ou no Twitter. Há apelos feitos antes dos doentes terem sido propostos para transplante, apelos feitos para doente com dador reservado, apelos para doentes já com data marcada para fazer o transplante.

400 mil dadores

Tudo isto será, segundo o Ministério da Saúde, desnecessário. “Portugal tem um dos maiores registos de potenciais dadores de medula do mundo”, sublinha Paula Maia Fernandes, na referida nota. “O registo português tem crescido de forma sustentada nos últimos anos, estando prestes a atingir os 400 mil dadores”, prossegue. Há uma década o registo somava quase 107 mil. E o país pode recorrer à rede mundial que soma mais de 28 milhões de dadores.“Muitos dadores que se inscrevem são geneticamente iguais a outros já inscritos por terem no seu genoma os genes mais representados na população”, refere ainda. 

Mais do que aumentar o número de pessoas ou o material disponível para responder a estes afluxos suscitados por campanhas, parece-lhe que “há que esclarecer o público em geral, mantendo a inscrição serena e consciente de novos dadores”. Quanto às campanhas nas redes sociais, o Ministério da Saúde defende  que se deve desmobilizar "este tipo de exposição mediática dos doentes".

“Deve caber ao Cedace [Centro Nacional de Dadores de Células Estaminais de Medula Óssea de Sangue Periférico ou de Cordão Umbilical] escolher onde e como deve recrutar esses novos dadores no sentido de aumentar a diversidade genética e assim melhor poder ajudar os doentes”, conclui.  

 

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