O que é ser voluntário em Fátima?

No serviço de lava-pés, a receber peregrinos, a prestar apoio nas celebrações... Quatro voluntários em Fátima explicam o que fazem e porquê.

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Maria José Eiró Miguel Manso
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Rui Corrêa d’Oliveira Enric Vives-Rubio

Ricardo Freitas

Ricardo Freitas tem 36 anos e é voluntário desde os 14. São 22 anos de serviço que o bancário de profissão já deu ao Santuário e, com a vinda do Papa Francisco, será a terceira visita papal que testemunha. Nas mais de duas décadas de experiência como acólito já fez “todo o tipo de tarefas”. Estas diferem de acordo com o altar, da Capelinha das Aparições à mais recente Igreja da Santíssima Trindade, explica.

Começou por acolitar “a convite de um amigo, que na altura era chefe acólito” e, tal como os restantes voluntários com quem o PÚBLICO falou, a influência da família foi preponderante. Com dois tios padres, uma irmã freira e um tio frade, era normal que Ricardo quisesse servir a Igreja.

A colaboração com o Santuário de Fátima é regular e o acólito auxilia as missas semanalmente, aos domingos. Se nestas celebrações o número de acólitos ronda os 20, a visita do chefe da Igreja Católica faz com que sejam mais, apesar de não ter um número preciso. Com tantos anos de casa, Ricardo Freitas ajuda já na parte da formação de novos acólitos.

Ana Aleixo

A viver em Fátima há 18 anos, Ana Aleixo é voluntária há outros tantos. “Nos sítios onde vivi estive sempre ligada às paróquias, fosse através de catequese ou do canto”, recorda. Naquela freguesia do concelho de Ourém, o local mais óbvio seria o Santuário.

Já esteve no serviço de informação e desempenha várias funções, mas aquela a que dedica mais tempo é o canto. No Santuário há sete missas oficiais por dia e dois terços. Para cada tem que haver um cantor e um organista, pelo que não é possível que os voluntários assegurem todas as celebrações. Há também serviços em que recebe.

“Aos fins-de-semana é fácil conjugar” vida profissional e serviço no recinto, durante a semana é que é mais complicado, diz a também professora de Biologia de 42 anos. Faz parte do coro, mas também canta sozinha nas celebrações.

“Podemos estar a cantar um salmo no 12 e 13 [de Maio] e estar a ser transmitido” na rádio e televisão. “Tenho pessoas que me vêm cumprimentar, que não conheço de lado nenhum, que me dizem que me gostam muito de ouvir”, conta. Há nisto uma dimensão mediática, mas explica que a comoção do momento acaba por ter maior peso.

Maria José Eiró

A ligação familiar de Maria José Eiró a Fátima é centenária. Conta que a avó paterna “assistiu ao milagre do sol em 1917” e deixou escrita a narração do que viu e sentiu nesse dia. Não é a primeira servita na família (os Servitas estiveram entre os primeiros a prestar auxílio voluntário aos peregrinos, quando ainda nada tinha sido construído na Cova da Iria) e afirma mesmo que tem um tio-avô “que foi dos primeiros Servitas de Fátima”.

Aos Servitas é pedida a disponibilidade quatro vezes por ano. Apesar de viver em Lisboa, “tenta-se sempre cumprir os mínimos”, diz Maria José. Depois de “correr vários serviços”, o que a voluntária mais desempenhou ultimamente foi o lava-pés, estando agora mais na parte da organização.

A data em que firmou o compromisso com o Santuário é fácil de recordar. 12 de Maio de 1982, data da primeira visita do Papa João Paulo II a Fátima. Antes disso, ainda em criança, lembra-se de ir ao Santuário com os pais várias vezes. Está-lhe na memória ainda a visita do Papa Paulo VI, em 1967, para o cinquentenário das aparições, quando Fátima ainda não tinha a dimensão que hoje tem e tiveram que dormir no carro.

Rui Corrêa d’Oliveira

Fátima entranhou-se na minha vida sem passar pela fase de a ter estranhado”, afirma Rui Corrêa d’Oliveira, que aos 14 anos começou a trabalhar como Servita. O pai já o era e, diz, a primeira vez que foi a Fátima “foi na barriga da mãe”.

Depois da “fase de adesão espontânea” ao voluntariado pela associação passou a “ler e a estudar a mensagem de Fátima”. “Quanta mais lia e mais estudava, mais atraído me sentia”. Da fase espontânea passou a uma mais reflexiva, explica o bancário de Lisboa com 63 anos.

Tem quase meio século de voluntariado e “não é fácil coordenar” o trabalho com esta outra parte da sua vida. Consegue-se roubando tempo ao descanso e com a compreensão da entidade patronal, diz. Mas as tarefas que desempenha “recompensam largamente todo o trabalho e esforço”, garante.

Os primeiros trabalhos foram no serviço de lava-pés, depois passou para o recinto, para o serviço que colabora na organização litúrgica, recorda. Ultimamente tem sido responsável pelo serviço de saúde.

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