“O que noutro hospital se resolve com o elevador aqui implica pedir ambulância”

Ana Escoval diz que a divisão em seis hospitais dispersos faz com que tenham de pagar mais de quatro milhões de euros, só em transportes.

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Ana Escoval no Bloco Operatório do Hospital de S José, em Lisboa Enric Vives Rubio

Como é feita a gestão das camas tendo em conta que estão espalhadas em vários hospitais?
Temos 1387 camas, mas mais de 100 foram abertas por causa da contingência da gripe e a maior parte irão encerrar. O que temos procurado é concentrar as áreas o mais possível para reduzir as transferências. Por exemplo, a cirurgia programada está agora concentrada no Curry Cabral, onde temos o maior número de salas operatórias. Mas aqui no S. José também temos, porque temos a urgência a que temos de dar resposta. Neste nosso jogo de concentrações há questões muito difíceis de resolver. O que fizemos no ano passado foi encetar as tais concentrações e mudanças visando uma melhoria organizacional e perspectivando um aumento de produtividade. Também renovámos alguns quadros médicos muito envelhecidos, o que nos permitiu reforçar o serviço de urgência.

E têm muitos casos sociais, ou seja, pessoas internadas por não terem para onde ir?
Temos em média 30 a 40 doentes internados todos os dias por não terem para onde ir ou por aguardarem vaga nos cuidados continuados.

Qual o peso de estarem divididos em seis instituições?
As nossas estimativas muito grosseiras apontam para 15% a 17% de custos decorrentes da dispersão geográfica que temos. Só em transporte entre as seis unidades gastamos 4,2 milhões por ano. Num hospital normal o doente vai ao bloco operatório e a seguir carrega-se num botão do elevador e faz-se subir o doente para o internamento. Nós temos de programar todo o transporte de uma forma muito articulada, porque um doente pode ser operado num hospital e internado noutro. O que noutro hospital se resolve chamando o elevador aqui implica pedir uma ambulância. Queremos reduzir esses casos. É muito difícil programar esses transportes. Nem todos os doentes podem ir sozinhos na ambulância e nem todos podem ir em conjunto. Não podemos ter equipas altamente diferenciadas e equipamentos em todos os pólos. Agora estamos a trabalhar para concentrar a esterilização toda no Curry. Temos custos adicionais resultantes da nossa descentralização e de recursos que pululam pelas diferentes unidades hospitalares. Esse acréscimo dificilmente é acomodável no valor que eu consigo de orçamento.

Ainda por cima têm défice. Qual o orçamento de 2016 e com o que contam para 2017?
O orçamento final do ano passado foi de 419 milhões. O inicial para 2017 é de 370 milhões, mas este valor cresce sempre. Estamos a melhorar ligeiramente o défice que tínhamos, mas para ficar confortável precisava de mais 60 a 70 milhões. Mesmo assim já fechámos 2016 com um Ebitda [resultado antes dos juros e impostos] positivo em 15 milhões de euros.

A dispersão reflecte-se no que fazem. Desde 2010 que as vossas consultas e cirurgias vinham a cair.
Por isso é que as concentrações são essenciais. Concentrámos a cirurgia no Curry e a medicina no Hospital dos Capuchos. Com as mesmas equipas estamos a fazer mais, com mais qualidade e segurança. Pelos mesmos motivos estamos a preparar a mudança da neurologia dos Capuchos para o S. José, onde já funcionam as neurociências. Não faz sentido estarem separadas. As concentrações não têm um reflexo imediato no aumento da produção porque durante as transferências perde-se produção. Mas no último trimestre de 2016 já tivemos um aumento da produção.

Em que áreas subiram?
No primeiro trimestre de 2017, face a 2016, fizemos mais 2% de consultas externas. Nas primeiras consultas o aumento é de 7%. Na urgência também estamos a conseguir o nosso objectivo de redução, e temos menos 6% de episódios, o que significa menos 42 atendimentos por dia. Acreditamos que isto tem muito a ver com o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido com os cuidados de saúde primários. Na cirurgia programada também tivemos um aumento de 11% e mais 2% de doentes saídos [altas]. Isto vem dar-nos razão, porque estas movimentações têm sempre descrentes.

As urgências são outro problema. Quantas pessoas atendem por dia?
Cerca de 200 na Estefânia e entre 600 e 700 fora dos picos na urgência geral. As coisas estão mais controladas.

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