Após o ataque, os habitantes de Estocolmo voltaram a casa “num imenso silêncio”

“Infelizmente, o conceito de terrorismo não é uma novidade”, diz uma portuguesa de férias em Estocolmo. O PÚBLICO falou com portugueses que se encontravam na cidade europeia na altura do ataque.

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Os transportes públicos foram fechados depois do ataque, obrigando os cidadãos a fazerem o seu percurso a pé Reuters/TT NEWS AGENCY

Magda Alves estava na zona do Palácio Real, em Estocolmo, quando aconteceu o ataque; está com o marido e com o filho de férias na cidade desde quinta-feira. Como não fala sueco, só se apercebeu do que tinha acontecido uma hora depois, quando um amigo lhe ligou de Portugal para saber se estava tudo bem. “Aí é que fiquei assustada, estar longe de casa numa situação destas provoca algum receio”, conta ao PÚBLICO.

Diz que assistiu ao rebuliço dos meios de socorro e viu inúmeros carros de bombeiros, polícia e ambulâncias. “Vimos muita polícia armada na rua – de cara tapada e com armas pesadas – a mandar afastar as pessoas”. Face à forte presença policial, o filho de Magda ficou assustado; mas, “infelizmente, o conceito de terrorismo não é uma novidade”.

A cem metros do local do ataque, a Drottninggatan (Rua da Rainha), trabalha João Correia, um português de 41 anos. “Só haver três mortes é uma sorte [a polícia entretanto subiu o balanço para quatro]”, considera João. “A rua é extremamente turística e movimentada, sobretudo àquelas horas”. Conta que um colega de trabalho, num escritório de sistemas de informação, esteve a cerca de 20 metros do camião quando chocou contra o edifício. “Ele fugiu e disse que se viveram momentos de pânico.”

“Poderíamos lá ter estado”, admite Ana Catarina Silva, que se sente receosa ao ver as imagens aterrorizadoras de um local que costuma frequentar. “É uma zona familiar e é normal que sintamos receio”, afirma a presidente da Associação Portuguesa de Estocolmo (Lusitânia APE).

“Estamos a falar de uma rua muito movimentada, em que às vezes até é difícil caminhar”, explica Ana Catarina, que não assistiu a nada mas passou nesta zona central da cidade cerca de uma hora antes do camião ter atropelado os transeuntes. “Depois de alguns atentados que aconteceram na Europa, estávamos a contar que, mais cedo ou mais tarde, uma situação destas pudesse acontecer”, diz.

Depois do ataque, Magda, de 42 anos, “reforçou” a impressão positiva que tinha do povo sueco: “São muito ordeiros, as pessoas caminhavam calmamente num imenso silêncio; só vi a polícia a gritar duas vezes para que as pessoas se afastassem. É um povo que se comporta bem em qualquer situação”.

João Correia mora em Estocolmo com a mulher e dois filhos – que ficaram fechados na escola, para sua protecção. “O suspeito está em fuga, há tiros, tudo o que é transporte público está parado, está muito complicado”, conta. Ainda assim, acredita que tudo continuará igual: “Este é um acontecimento triste mas é uma terra pacífica. Com mais alguma preocupação, tudo continuará normal”. 

A estudante Ema Rodrigues, de 22 anos, explica que todas as linhas de metro passam naquela zona: “No meu caminho de casa para a faculdade nem sequer tenho como evitar aquela zona central”, diz, admitindo que se sente preocupada em relação ao que aconteceu nesta sexta-feira.

Nenhuma das pessoas contactadas teve conhecimento de amigos ou familiares feridos no incidente. O assessor do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Vítor Pinto, confirma: “Não há nenhuma informação relativa ao envolvimento de portugueses no ataque”.

Enquanto esperavam que a situação acalmasse, Magda e a sua família entraram dentro de um restaurante e pediram um chá. “No final, não nos deixaram pagar, só disseram que estavam contentes por estarmos sãos e salvos”. Depois, caminharam uma hora para voltar ao hotel onde estão alojados, já que os meios de transporte públicos estavam todos parados, assim como os táxis; ainda assim, conta que havia filas de trânsito “enormes” provocadas pelas pessoas que tentavam regressar a casa; outras iam a pé, em silêncio, com os telemóveis na mão.

“Não sabemos como é que a Suécia vai acordar amanhã”, estranha a portuguesa, que tenciona regressar a Portugal na terça-feira. “Mas estamos bem. Felizmente assistimos a isto enquanto espectadores”, conclui Magda.

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