Seis cantoras evocam a obra de Violeta Parra num concerto único em Lisboa

Aline Frazão, Lula Pena, Mísia, Rita Redshoes e a dupla Señoritas partilham este sábado o palco do cine-teatro Capitólio, em Lisboa, para um tributo à artista chilena Violeta Parra. É às 21h30 e a entrada é livre.

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Violeta Parra DR

É um tributo anunciado e mais do que justificado. Canta Violeta Parra, nome de um programa transmitido pela rádio chilena na década de 1950, toma agora forma de concerto, depois de, ao longo de um mês ter marcado presença regular na Antena 1. Promovido pela Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) no contexto do programa da Capital Ibero-Americana de Cultura, que este ano tem lugar em Lisboa, Canta Violeta Parra reúne cantoras de universos diferentes mas unidas na sua admiração pela obra e pela figura da grande artista chilena, que além de cantora e compositora foi também artista plástica e ceramista.

Assim, no ano em que assinalam os 100 anos do nascimento de Violeta Parra (em 4 de Outubro de 1917) e os 50 anos da sua morte (em 4 de Fevereiro de 1967), as cantoras Aline Frazão, Lula Pena, Mísia, Rita Redshoes e a dupla Señoritas (Mitó Mendes e Sandra Baptista) apresentam-se este sábado no cine-teatro Capitólio, em Lisboa, às 21h30, interpretando canções de Violeta Parra por elas escolhidas. A direcção musical do espectáculo (com entrada livre) é de Francisco Rebelo.

Primeiro na rádio

Em entrevistas conduzidas por Ana Sofia Carvalheda, na Antena 1, transmitidas às terças-feiras desde 7 de Março, as cantoras falaram do que as liga a Violeta Parra, cantando ao vivo, no estúdio daquela emissora, um tema à sua escolha. Aline Frazão, que cantou Lo único que tengo, sublinhou primeiro a sua ligação à cultura latino-americana dos cantautores: “Sinto-me identificada com muita dessa irreverência, a força, o violão, a voz, as palavras, a poesia, a intervenção, a canção de protesto.” De Violeta Parra, destacou uma canção que lhe diz muito: “La Carta, uma das que vou cantar na homenagem, que é uma música que fala de um grupo de presos políticos do qual ela tomou conhecimento quando estava em França, e escreve uma canção incrível, de uma força típica dela, com aquela sua voz crua. Essa música inspirou-me bastante.”

Lula Pena, que escolheu Ausencia para cantar no final da entrevista, referiu que “a música reflecte a vida de Violeta Parra, mas sobretudo a sua necessidade de justiça, não só pessoal mas dando voz àqueles que a não tinham.” Elogiou-a ainda como “uma mulher muito intensa”, com uma vida “cheia de paixões e de desilusões e de lutas.” Já Rita Redshoes, que cantou Run run se fue pa’l norte, disse-se “rendida à figura e ao trabalho dela”, com “coisas maravilhosas”; e feliz “que tenha sido uma mulher a ter um papel preponderante na música tradicional chilena.”

As Señoritas (Mitó Mendes e Sandra Baptista, de A Naifa), que escolheram três temas para cantar no Capitólio e na Antena 1 cantaram Arauco tiene una pena, disseram a Ana Sofia Carvalheda que Violeta Parra “foi provavelmente a maior cantora de intervenção mulher que o mundo alguma vez já viu”, justificando assim a aceitação, “com todo o orgulho”, deste convite. Por fim, Mísia classificou a cantora chilena como “uma daquelas pessoas-milagre”: “É uma artista mas toda a sua riqueza, generosidade e criatividade está baseada numa personalidade quase oceânica.” Mísia escolheu para cantar no Capitólio duas canções-chave de Violeta Parra, Gracias a la vida e Volver a los diecisiete, a par de Qué he sacado com quererte, um lamento mapuche que também cantou no final da sua entrevista na rádio. As entrevistas podem ser todas ouvidas online.

Mais para ver e ouvir

Refira-se que, para lá da sua participação em Canta Violeta Parra, Mísia tem a curto prazo mais três espectáculos: este domingo estará no São Jorge a cantar canções napolitanas, acompanhada ao piano pelo maestro Fabrizio Romano (num concerto integrado no ciclo de Cinema Italiano); dia 27 estará em Coimbra, no Teatro Académico de Gil Vicente, como protagonista de Giosefine, espectáculo baseado em Carta desde Casablanca de Antonio Tabucchi, com encenação de Guillermo Heras; e no dia 19 de Maio estará no CCB, no ciclo Há Fado no Cais, com um concerto a que chamou Mísia e os seus Poetas, onde terá como convidada Adriana Calcanhotto.

Voltando a Violeta Parra, recorde-se que foi precisamente no Capitólio, no passado dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, que começaram as celebrações envolvendo o seu nome. Foi ali lançada a colecção de livros Antiprincesas, para crianças e jovens (edição EGEAC/Tinta da China), com volumes dedicados a Violeta Parra, Frida Kahlo, Juana Azurduy e Clarice Lispector. E foi também exibida a curta-metragem chilena de animação Cantar com Sentido, com realização de Leonardo Beltrán e direcção artística de Cecilia Toro, sobre a vida de Violeta Parra. A noite terminou com a actuação da cantora e compositora brasileira Mallu Magalhães (voz e violão).

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