Morreu Virgílio Varela, que liderou coluna no golpe das Caldas em 1974

Dois meses antes do 25 de Abril, o líder do malogrado golpe foi detido e libertado no dia da Revolução dos Cravos.

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O falhado golpe das Caldas aconteceu dois meses antes do 25 de Abril Nelson Garrido

Virgílio Varela, o capitão que liderou a coluna militar do malogrado “golpe das Caldas”, dois meses antes do 25 de Abril de 1974, morreu na terça-feira aos 79 anos, disse hoje à agência Lusa uma fonte familiar.

Foi ele que, de pistola em punho, a 16 de Março de 1974, prendeu o comandante do Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha, de roupão, e assim permitiu a saída da única coluna militar do golpe (as outras recusaram sair dos quartéis) e que ficou a três quilómetros da Portela, já com a capital à vista.

Após o golpe falhado, e por ter liderado a única força que marchou sobre Lisboa, Virgílio Luz Varela foi detido e estava na Casa de Reclusão da Trafaria quando o Movimento das Forças Armadas (MFA) derrubou o Governo de Marcello Caetano e o Estado Novo, a 25 de Abril de 1974.

Libertado no próprio dia, comandou operações militares nas ruas de Lisboa, ainda durante o golpe de Estado que levou à instauração da democracia, como lembra Manuel Bernardo no seu livro Marcello e Spínola: a Ruptura. As Forças Armadas e a Imprensa na Queda do Estado Novo. Portugal 1973-1974.

Pertenceu à Junta de Salvação Nacional (JSN), que tomou o poder, e pertenceu à 2.ª Divisão do Estado Maior-General das Forças Armadas. Foi membro da Assembleia do MFA até ao 11 de Março de 1975, tendo depois sido detido por cerca de 50 dias.

Virgílio Canísio Vieira da Luz Varela nasceu a 27 de Abril de 1938, em Ponta do Sol, na ilha da Madeira, e tinha os cursos de Transmissões, de Criptólogos e de Estado-Maior (Geral) e o Estágio de Segurança NATO. Cumpriu uma comissão em Angola, nos anos 60.

Condecorado com a Medalha D. Afonso Henriques e a de Mérito Militar, em 1981, desempenhou funções no Comando Geral da PSP e foi promovido a coronel em 1994.

Nesse ano, numa entrevista à agência Lusa para uma revista sobre os 20 anos da Revolução dos Cravos, Luz Varela recorda como soube que ia ser libertado em 1974 e desconfiou que algo estava para acontecer.

“No dia 9 de Abril, na prisão, veio um soldado oferecer-se para me cortar o cabelo. Achei estranho, não era habitual. Sentei-me na cadeira e o barbeiro sussurrou-me ao ouvido: 'O compadre do meu capitão diz que vai jantar consigo no dia dos seus anos.' O meu compadre era o capitão Alberto Ferreira e sabia bem o dia dos meus anos: 27 de Abril”, afirmou.

Virgílio Luz Varela morreu na terça-feira e o seu corpo estará hoje, a partir das 18h00, em câmara-ardente, na Igreja de Santo Condestável, em Lisboa.

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