Nesta empresa do Carregado é banal lidar com 100 milhões em notas

Fábrica do Banco de Portugal guarda enormes volumes de dinheiro e quase metade das reservas de ouro do país. No ano passado, exportou 96 milhões de notas de 50 euros para outros países do euro.

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Ter oito milhões de euros à frente dos olhos é tudo menos normal. Principalmente quando esse dinheiro, dividido em notas de vinte embaladas em plástico numa espécie de palete, é apenas uma parte de um armazém com muitos mais milhões. Só numa fila, estão 13 destas paletes, com perto de dois metros de altura e um de largura. Ou seja, no campo de visão imediato estão qualquer coisa como 104 milhões de euros.

Não há muitos sítios onde haja tanto dinheiro, ainda por mais legal. Neste caso, estamos no interior do complexo do Banco de Portugal no Carregado, ou seja, a “fábrica” de um dos bancos centrais da zona euro. Os enormes pacotes de notas de 20 euros têm o selo do Banco de França, e vieram reforçar as suas congéneres que já estão a circular no território nacional. De todas as existentes no seio da moeda única, a nota de vinte euros é a que tem mais utilização em Portugal: no ano passado foram levantados no Banco de Portugal 287 milhões de notas de vinte - o equivalente a 54% do total -, ou seja, 5738,3 milhões de euros. Talvez por isso, é também a mais falsificada no território nacional.

De acordo com dados do relatório da emissão monetária do banco central referente ao ano passado, a nota de vinte euros foi sempre a mais utilizada e é considerada “a nota padrão do sistema monetário” do país. As que estão fechadas a sete chaves na Valora, nome da empresa do Carregado detida a 100% pelo Banco de Portugal, são todas da série Europa, que está a substituir as emitidas desde a introdução da moeda única, em 2002.

Apresentadas como mais seguras contra falsificações, as notas da série Europa começaram a ser introduzidas a partir das de cinco euros (com início em Maio de 2013), seguindo-se as de 10 euros (Setembro de 2014) e, depois, as de 20 euros (Novembro de 2015).

Agora, é a vez das de 50 euros: as novas notas (cujo custo de fabrico oscila entre os seis e dez cêntimos) iniciaram a circulação esta terça-feira, e depressa serão mais numerosas do que as anteriores.

No caso da de 20 euros, em Agosto de 2016, ou seja, apenas nove meses depois da sua introdução, a série Europa já ultrapassava a anterior. As duas séries vão circular em paralelo, com as mais antigas a serem retiradas à medida que forem ficando estragadas ou haja o objectivo de dar mais ritmo à renovação.

As notas que, depois de analisadas pelas máquinas e pelos técnicos, já não reúnem as condições para permanecer em circulação, são destruídas sem dó nem piedade por uma enorme trituradora. Os seus micro pedaços são depois misturados e comprimidos em forma de tubos que, depois, se dividem em bocados coloridos, cujo principal destino é a incineradora da Valorsul, ao lado de vários produtos deitados ao lixo. No Carregado, o dinheiro ganha vida, mas é também condenado à morte.

Exportar notas de 50 euros  

É dentro desta área de 67.000 metros quadrados da Valora que, perto de outras unidades como uma fábrica de batatas fritas, se estão a produzir algumas das novas notas que 50 euros que entram agora em circulação. A maior parte, no entanto, estão a ser exportadas para outros países da zona euro, como a Alemanha, onde a sua utilização é bem mais comum. Só no ano passado foram aqui produzidas 108 milhões de notas de 50 euros da série Europa, das quais 96 milhões (equivalente a 4800 milhões de euros) foram expedidas para outros bancos centrais. A este número acresce mais 30 milhões de notas da primeira série (1500 milhões).

Ao todo, as impressoras do Carregado, que recebem o algodão preparado para a produção de notas (e que inclui a reciclagem de produtos têxteis), já produziram 220 milhões das novas notas de 50 euros desde 2014, ano em que participou num grupo de produção piloto. E se por cá são pouco utilizadas, em vários outros países fazem parte do quotidiano, tornando esta nota a mais utilizada em termos de zona euro. Actualmente, há mais de nove mil milhões deste numerário em circulação, o que representa 46% do total.

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As notas de 50 euros da série Europa (nome da filha de um rei fenício seduzida por Zeus, que a levou para a ilha de Creta, e que acabou por se transformar em referência geográfica) vão espalhar-se por Portugal à medida que as instituições financeiras, e os seus clientes, as solicitem.

À hora de almoço desta terça-feira, por exemplo, ainda não tinha saído uma única nota do complexo, já que as carrinhas de valores ainda não tinham chegado. Do lado de fora, só a forte segurança, com vários soldados da GNR armados e zonas de tampão e vistorias, dá pistas de que algo muito valioso está armazenado dentro da empresa.

Para além de todo o numerário ali guardado, seja reserva fiduciária ou dinheiro para recirculação, está ali guardada quase metade das reservas de ouro do país. Se o dinheiro, mesmo embalado em plástico e quase tratado como se fosse um outro produto qualquer por quem ali trabalha (nunca se fala em valores, mas sim em unidades), impressiona pela quantidade, o ouro rivaliza nas atenções.

A pequena divisão onde estão os lingotes é tudo menos bonita (aliás, como o resto do complexo, à semelhança de muitas fábricas) mas ganha um brilho próprio com o amarelo dourado. Ali, mesmo à nossa frente, à distância de um braço, há perto de 170 toneladas de um dos metais mais preciosos do planeta. Ou seja, quase 6000 milhões de euros. E isso, só por si, faria deste complexo do Carregado uma empresa fora do normal.

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