Sir Tim Berners-Lee recebe 50.º “Nobel” da computação

O cientista que criou a World Wide Web diz-se preocupado com o futuro da privacidade online.

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Sir Tim Berners-Lee trabalhava no CERN, na Suíça, quando criou a Web Enric Vives-Rubio

Foi em 1989 que um dos programadores do laboratório de física do CERN, a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, propôs um sistema para permitir a publicação e o acesso a documentos com hiperligações e conteúdo multimédia na Internet. Sir Tim Berners-Lee é o cientista que tornou possível a navegação entre páginas online da forma como a conhecemos. Hoje, recebeu o Turing Award 2016.

Conhecido como o “Nobel da computação”, o prémio é atribuído anualmente pela  Association for Computing Machinery (ACM) a um indivíduo que tenha “avançado a indústria da computação e tecnologias de informação” e “promova políticas e investigação que beneficie a sociedade”. Segundo o júri deste ano, a Web trata-se de uma das “inovações computacionais mais influentes da História” sendo utilizada por mil milhões de pessoas diariamente para comunicar, aceder a informação e fazer transacções.

“O primeiro site na World Wide Web só ficou online em 1991. Não parece muito tempo, mas é difícil imaginar o mundo antes da invenção de Sir Tim Berners-Lee. O impacto colossal da Web é óbvio”, justifica a presidente da ACM, Vicki L. Hanson, em comunicado. “Tim Berners-Lee desenvolveu componentes-chave como URIs [sequência de caracteres que identifica um recurso, e que englobam os URLs] e web browsers que nos permitem utilizar a Internet, e ofereceu uma visão coerente de como cada um destes elementos funciona em conjunto.”

Após a recepção do Turing Award, Berners-Lee escolheu focar a atitude “chocante” dos políticos americanos quanto à Internet. Esta segunda-feira, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, promulgou uma lei que elimina as garantias de privacidade online – que protegem a privacidade dos clientes de banda larga e outros serviços de telecomunicações – impostas pelo seu antecessor. Berners-Lee discorda da decisão. “Há coisas que as pessoas fazem na Web que revelam tudo. Por vezes, muito mais do que conhecem sobre elas mesmas”, disse em entrevista ao Guardian. O cientista britânico acredita que as pessoas têm direito à privacidade na Internet, da mesma forma que têm direito ao sigilo profissional: “Hoje, as pessoas vão ao médico para uma segunda opinião; foram à Web para a primeira opinião para ver se é cancro. Comunicam também muito intimamente com membros da família que amam.”

Este ano assinala ainda o quinquagésimo aniversário do prémio, cujo nome é uma referência ao matemático e cientista britânico Alan Turing, que decifrou um código utilizado pelos nazis e encurtado a II Guerra Mundial. Embora seja aclamado como um dos pioneiros da computação, foi condenado na década de 50 após reconhecer uma relação homossexual. Os prémios Turing celebram-se, em sua honra, desde 1967. Mas foi apenas em 2013 que a rainha Isabel II lhe concedeu um perdão a título póstumo.

Além do prestígio, o Turing Award vem acompanhado de um prémio de um milhão de dólares – o equivalente a 930 mil euros –, suportado financeiramente pelo Google. “A criação da World Wide Web foi um momento significante que permitiu que todas as pessoas no mundo, desde alunos do secundário a corporações, pudessem construir, independentemente, uma presença na Web e colectivamente criar o que viria a ser a maravilhoso WWW”, explica Andrei Broder, cientista do Google, a propósito da escolha de Berners-Lee este ano.

Já em 2004, os americanos Vint Cerf e Robert E. Kahn tinham recebido o Turing Award pelo seu trabalho na criação de protocolos base que permitem o funcionamento da Internet, permitindo pela primeira vez que computadores pudessem comunicar em rede.

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