Na era dos reboots e remakes, fugir da prisão ou fugir de Prison Break?

Fox estreia esta quarta-feira a quinta temporada de uma série que terminou em 2009. O autor quer que seja como A Odisseia, o canal que seja fácil de promover e encontrar o seu público.

Fotogaleria
dr
Fotogaleria
dr

Foram os anos de Perdidos, Prison Break, 24 ou Donas de Casa Desesperadas. The Wire estava nas brumas do culto, ainda não havia Breaking Bad nem Mad Men à vista e muito menos se sonhava com A Guerra dos Tronos. A meio da primeira década do século XXI, falava-se de um salto de qualidade na televisão. Mais de dez anos depois, a televisão parece não querer deixar de viver no passado — nesta quarta-feira regressa Prison Break, para tentar fugir mais uma vez de mais uma prisão. A culpa é, em parte, do Netflix e do público como o português, o chamado “mercado internacional”.

Prison Break foi sempre assim tão pateta?”, pergunta-se o crítico do New York Times. “Cansativamente medíocre”, suspira o seu homólogo da Entertainment Weekly. “Um arranque sólido”, destoa o Newsday. Em que ficamos? Na noite desta quarta-feira, 24 horas depois da estreia na Fox dos EUA, a Fox de Portugal estreia a quinta e inesperada temporada de Prison Break para se perceber.

Intriga: quando todos pensavam que um dos irmãos protagonistas, Michael Scofield (Wentworth Miller), estaria morto, o outro irmão, Lincoln Burrows (Dominic Purcell), e a mulher, Sara Tancredi (Sarah Wayne Callies), lançam-se em busca do famoso recluso tatuado, anos depois da sua morte e de Sara ter ficado grávida. Ambição: “É A Odisseia”, diz sem pudor Paul Scheuring, criador das cinco temporadas. Serão nove episódios, que arrancam quando 24: Legacy (Fox) ou Arma Mortífera (AXN) estão ainda no ar.

São duas séries nascidas de títulos já conhecidos e que com Prison Break se juntam a experiências recentes e não famosas de regressos ao passado como Heroes (SyFy) ou Ficheiros Secretos (Fox). Esta temporada, a Fox americana está a apostar forte nestas velhas propriedades, porque, como disse o CEO da Fox, Gary Newman, “os produtores de 24 e Prison Break disseram que tinham uma história que queriam contar, e que até era fantástica. Aconteceu ser no mesmo ano”.

Mas, coincidências à parte, a televisão também é um negócio. Foi assim que, há alguns meses, indicou Newman no podcast Remote Controlled, o canal decidiu voltar a “uma série que teve um desempenho inacreditável internacionalmente — é uma das [nossas] melhores séries de sempre em termos de performance internacional”, disse aos jornalistas da Variety. E, claro, há o factor Netflix: o seu presidente, “Ted Sarandos, disse publicamente que é uma das melhores séries que tiveram”, reconheceu ainda Gary Newman. Nascida em 2005 e extinta em 2009 já sem grande audiência (nos seus tempos áureos passava em Portugal na RTP1), Prison Break teve um sucesso post mortem na plataforma de streaming, com novos e velhos espectadores. Foi a série mais vista em modo binge (toda ou muitos episódios de uma vez) em 2012, por exemplo.

Numa altura em que nunca houve tanta produção televisiva, Gary Newman até acha que estes produtos conhecidos têm mais dificuldades em afirmar-se porque o público os escrutina ainda mais, mas sabe que identificar um público alargado “é importante, sugere que há uma base de fãs que sente a sua falta e que quer” mais. “Os reboots não são uma garantia de sucesso”, admitia a presidente do Fox Television Group na apresentação da grelha do canal à Television Critics Association. Já em Agosto, Dana Walden mostrava-se só esperançosa de que “os títulos bem conhecidos — se e só se forem bem feitos — possam aligeirar a carga da equipa de marketing”, admitia, “aproveitando que o público os conhece”.

A Fox já tinha tentado escavar um pouco mais a mina Prison Break, mas o seu criador, Paul Scheuring, não tinha nada a acrescentar. Em 2015, porém, o cenário mudou. Tinha uma ideia e uma vontade. Sobre a sua ambição na grande tradição narrativa, Scheuring nada omite: “Ulisses desapareceu durante sete anos depois da Guerra de Tróia e teve de voltar a Ítaca, a Penélope e a Telémaco”, explica à Hollywood Reporter.

“Aqui é basicamente a mesma coisa. Não tentamos escondê-lo. Sara vive em Ítaca, Poseidon está a tentar parar Michael”, diz o autor sobre as linhas gerais da temporada e sobre a organização identificada com o mesmo nome do deus dos mares do poema épico grego. As primeiras críticas, americanas mas não só, acham-na pouco verosímil, mas a série vai estender-se geograficamente e tentar tocar nas feridas do mundo actual, tocando a fuga de um país e, claro, o terrorismo internacional.

Sugerir correcção
Comentar