O aumento de emissões em 2015 deve-se a quebra na produção hídrica de electricidade

Depois de nove anos de redução das emissões de gases com efeito de estufa, os números de 2015 apontaram para o cenário inverso. O governo diz que a culpa é da seca.

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Portugal quer ser um país neutro em carbono em 2050 Reuters/JO YONG-HAK

O aumento de 7% das emissões de gases com efeito de estufa em 2015 deveu-se a uma quebra de cerca de 24% na produção hídrica de eletricidade, exigindo mais utilização de carvão, anunciou esta segunda-feira o Ministério do Ambiente.

"O motivo principal para o aumento de emissões é a queda da ordem de 24% da produção hídrica em 2015", refere informação do Ministério liderado por João Matos Fernandes.

Em resposta a questões da agência Lusa, o Ministério do Ambiente apontou que aquela subida das emissões de gases com efeito de estufa, depois de nove anos de descidas, deveu-se "a um ano desfavorável em termos de disponibilidade hídrica e à consequente maior utilização de carvão (sobretudo) e gás natural no setor electroprodutor".

A associação ambientalista Zero alertou esta segunda-feira para a subida de 7% das emissões de gases com efeito de estufa em 2015, depois de uma descida nos anteriores nove anos, e defendeu a mudança de políticas na produção elétrica e transportes.

"Infelizmente em 2015, depois de as emissões terem vindo a decrescer desde 2005, tivemos um aumento de 7%. Havia uma tendência muito clara de decréscimo que, no entanto, entre 2013 e 2014, já tinha sido pouco pronunciada", resultando numa "clara inversão da tendência" de descida, disse à agência Lusa o presidente da Zero.

O ano de 2015 foi seco, com fraca produção de eletricidade pelas barragens, "tivemos de recorrer às centrais térmicas e, por razões de custo, fomos utilizar as mais poluidoras, com maiores emissões de gases com efeito de estufa, que são as centrais a carvão de Sines e do Pego", explicou Francisco Ferreira.

Segundo a Associação Sistema Terrestre Sustentável, Zero, além do comportamento na produção de eletricidade, no sector rodoviário, entre 2014 e 2015 também se registou um aumento, de 1%, nas emissões, "principalmente à custa da perceção de uma melhoria da situação económica e das pessoas começarem a utilizar mais o automóvel".

O Governo reconhece que o sector dos transportes tem um papel importante no desempenho do país nas emissões de gases com efeito de estufa, apontadas como principais responsáveis pelas alterações climáticas.

"Precisamente por se ter identificado que os transportes são um sector crítico para as emissões, estamos a investir nesta matéria e dedicamos um capítulo exclusivo ao sector dos transportes no novo Roteiro de Neutralidade Carbónica para 2050".

O primeiro-ministro anunciou que Portugal pretende ser um país neutro em carbono em 2050, ou seja, quer, além de reduzir as emissões, por exemplo, compensar aquelas que se mantêm com formas de captar o dióxido de carbono da atmosfera.

A Zero analisou os dados de Portugal relativos às emissões de gases com efeito de estufa, divulgados pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para 2015 e "ficou preocupada com o aumento significativo de 7% entre 2014 e 2015".

Desde 2005, Portugal tinha vindo a reduzir as suas emissões a um ritmo médio de 3,4% por ano, com o período entre 2013 e 2014 a registar a descida mais baixa, com menos 0,5%.

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