Novo Banco, velha fé

Vá lá, faça um esforço: imagine que ao fim de três anos a economia portuguesa está a crescer a olhos vistos, que com isso o Novo Banco começa a dar lucro. Imagine que a retoma leva a que o imobiliário recupere - e que, com isso, os activos problemáticos do banco se transformam como cisnes. Imagine até que, com o PIB a subir, alguns devedores também recuperam e deixam de ser um fardo. Nesse caso, o pior dos cenários não vai acontecer. O Lone Star, se calhar, até consegue vender o Novo Banco a um investidor com prestígio na banca; a posição do Estado (25%) fica valorizada — e até se consegue diminuir a fatia que os bancos devem ao Estado (e que têm que pagar até 2046). Ou não.

O problema é que nos disseram no início que a resolução do BES era a boa solução, aquela que evitava perdas para nós todos, que permitia vender o banco em dois anos, que evitava novas perdas a credores do banco, que isto tudo ainda ia ser visto como um exemplo na Europa toda. Ou não que foi o que aconteceu.

A verdade desta operação de venda do Novo Banco (que ainda não o é), é que evita o pior cenário (o de liquidação), mas só mitiga os riscos para nós, contribuintes. A verdade é que a queda do BES só era para custar os 4,9 mil milhões de euros da resolução, mas já custou muitos mais em juros da dívida e ainda vai comprometer outros 3,9 mil milhões ao Fundo de Resolução - fora o resto que está em tribunal e que ainda pode vir para a factura. A verdade é que, depois dos muitos mil milhões deitados para o "BES mau", percebemos que ainda há 10 mil milhões problemáticos num side bank, dentro do Novo Banco, problema que levou o Lone Star a pôr muitas condições para entrar neste negócio.

Sim, podia ser pior. Podia não haver investidor e haver uma nacionalização (4,7 mil milhões de euros, contou o primeiro-ministro). O Lone Star podia não ter aceitado uma não distribuição de dividendos - ou ficar proibido de fazer operações dentro do grupo, só para ganhar rentabilidade no curto prazo. O Estado podia ter sido forçado a dar garantias, com custos no Orçamento, na dívida e na saída dos défices excessivos. A verdade é que o Estado podia não ter conseguido empurrar os custos mais um bocadinho com a barriga, para não ter que pagar nada já.

É por isso que vale a pena aquele esforço, aquele que lhe pedi no início deste texto. Se a economia crescer a olhos vistos, o Novo Banco recupera e não nos pesa mais no bolso. A fé pode ser velha, mas o banco é Novo: que a economia cresça. Valha-nos isso.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários