Hepatite A: uma unidade de saúde familiar em Lisboa deverá concentrar as vacinas

Desde Janeiro foram notificados 123 casos de infecção pelo vírus da hepatite A. Autoridades pedem às pessoas que não "corram" às farmácias para comprar vacinas.

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Farmácias dizem que não têm vacinas contra a hepatite A Joao Matos

Com as farmácias a garantir que não têm vacinas contra a hepatite A e a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) a assegurar que há imunizações em stock nos fabricantes, vai ser decidido nesta sexta-feira onde e em que moldes passarão a ser disponibilizados os tratamentos preventivos desta infecção. Dados de quinta-feira mostravam que o surto em Portugal ascendia já a 123 casos (notificados desde Janeiro).

A ideia é concentrar as disponibilidades de tratamentos preventivos (além da vacina, há medicamentos que ajudam a fortalecer o sistema imunitário) “numa USF [Unidade de Saúde Familiar] de Lisboa a ser definida” numa reunião marcada para esta sexta-feira, adiantou ao PÚBLICO o director-geral da Saúde, Francisco George.

A vacina contra ao vírus da hepatite A não integra o Plano Nacional de Vacinação e, para ser comprada nas farmácias, tem que ser prescrita por um médico. O director-geral da Saúde já pediu, em declarações em várias estações de televisão, que as pessoas não “corram” às farmácias e que consultem o seus médicos.

Na reunião vão participar responsáveis da Direcção-Geral da Saúde (DGS), do Infarmed, da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e ainda das associações ILGA (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero) e o Grupo de Activistas em Tratamento (GAT). Estas duas associações já contribuíram, aliás, activamente, para a  revisão da primeira versão do documento com orientações que foi enviada para médicos e enfermeiros na quarta-feira.

Mas Francisco George avisa, desde já, que as vacinas e os outros tratamentos preventivos apenas serão disponibilizados a quem tiver indicações clínicas para isso. “Não são assim tantas pessoas”, afirma, notando que as vacinas nesta fase devem ser disponibilizadas prioritariamente às pessoas que tiveram “contactos íntimos” com os infectados  — estes são quase todos homens jovens, maioritariamente da região de Lisboa e Vale do Tejo, e, dentro deste grupo, sobretudo homens que fazem sexo com homens.

A infecção transmite-se essencialmente por via fecal-oral nos países onde a hepatite A deixou há décadas de ser endémica, como é o caso de Portugal, mas a transmissão também ocorre através da ingestão de alimentos ou água contaminados ou má higiene da mãos. Portugal é um dos 13 países onde o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças identificou focos epidémicos em Fevereiro.

Não há vacinas suficientes

Agora com a confusão instalada e uma corrida às farmácias pelas vacinas, o director-geral da Saúde não conseguiu precisar quantas doses estão afinal disponíveis em Portugal. “Vamos ver isso amanhã [nesta sexta] em pormenor, com o Infarmed”, disse apenas.

“Devem ser os médicos a prescrever a vacina a quem precisa e as farmácias, depois, entram em contacto com os fabricantes”, tinha explicado de manhã à Lusa uma fonte a Autoridade Nacional do Medicamento, que adiantou que na quarta-feira houve duas reuniões com o Infarmed e os dois fabricantes das vacinas à venda em Portugal.

“Não temos efectivamente vacinas em quantidade suficiente”, contrapõe Hipólito Aguiar, director de uma das farmácias mais antigas de Lisboa, que fica situada perto do Centro de Saúde de Sete Rios, onde as pessoas que viajam para países de África, Ásia e América, onde a hepatite A ainda é endémica, fazem as chamadas consultas de viajante e são imunizadas. “Já há cerca de três semanas que não temos vacinas e nem as pessoas que viajam para alguns destes países onde o risco de contaminação é maior têm conseguido obter” este fármaco, diz.

Além da vacina, há medicamentos alternativos que podem ser utilizados como solução de recurso temporário, como as injecções de imunoglobulina para ajudar a fortalecer o sistema imunitário de forma a combater a infecção pelo vírus da hepatite A. Mas estes medicamentos apenas garantem protecção durante meses, ao contrário da vacina.

A hepatite A é uma doença de evolução habitualmente benigna, raramente é fatal, mas a gravidade aumenta com a idade, sobretudo em pessoas que tenham doença hepática crónica, cirrose ou hepatite B ou C crónicas. A hepatite fulminante com insuficiência hepática é rara, ocorrendo em menos de 1% dos casos. Segundo a referida orientação da DGS, a letalidade é de 0,3-0,6% (aumenta com a idade e atinge 1,8% em doentes com mais de 50 anos).

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