Marcelo: "Frederico Lourenço deu-nos uma Bíblia para crentes e não crentes"

Presidente da República elogiou o trabalho de tradução da Bíblia Grega, afirmando que há "a vontade quase utópica de encontrar uma Bíblia literal, que não é a literalidade dos fundamentalistas, mas dos textualistas".

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Marcelo Rebelo de Sousa, com Rui Vilar e Francisco Pinto Balsemão, na entrega do Prémio Pessoa 2016 ao escritor e filólogo Frederico Lourenço LUSA/ANDRÉ KOSTERS

O Presidente da República elogiou esta quarta-feira o trabalho de Frederico Lourenço de tradução da Bíblia Grega, pelo "diálogo directo com aquilo que o texto original diz", considerando que é uma obra para crentes e não crentes.

Marcelo Rebelo de Sousa falava durante a cerimónia de atribuição do Prémio Pessoa 2016 a Frederico Lourenço, na Culturgest, em Lisboa. "Há neste projecto a vontade quase utópica de encontrar uma Bíblia literal, que não é a literalidade dos fundamentalistas, mas dos textualistas, os que buscam com afinco o significado exacto dos termos, que em grego é muito diferente do que é em hebraico", declarou o chefe de Estado.

Marcelo Rebelo de Sousa considerou que "as abundantes e minuciosas notas" dos dois volumes já concluídos "têm como objectivo essa transparência, um diálogo directo com aquilo que o texto original diz", salientando: "Não necessariamente com o que quer dizer, ou antes, com o que nós queremos que diga".

"Frederico Lourenço deu-nos uma Bíblia para crentes e não crentes e ainda para todos os que não sabem em que categoria estão. Mas uma Bíblia literária, em que o esplendor da palavra fosse como que prova suficiente da existência de Deus, quer dizer, do Deus da literatura", concluiu o Presidente da República, recebendo aplausos. Segundo o chefe de Estado, "tanto na ficção, como nos escritos autobiográficos ou ainda nos ensaios sobre temas gregos, o galardoado (...) afirmou-se como um dos expoentes de uma erudição legível ou de uma legibilidade erudita".

"Frederico Lourenço devolveu-nos o cânone ocidental e universal. Não se trata apenas de reconhecermos as capacidades de um tradutor, excelente que seja, mas o talento da recriação linguística, onde questões como a clareza e a beleza estão sempre em causa", elogiou o Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa qualificou como "um dever de memória" a tradução dos clássicos gregos, como a "Ilíada" e a "Odisseia", de Homero, e referiu que "Frederico Lourenço também fez versões de ambos os textos contados às crianças - um gesto de professor, possivelmente, mas, antes de mais, um gesto de civilização".

O Prémio Pessoa é atribuído anualmente, há 30 anos, a uma personalidade nacional que se tenha destacado nas áreas cultural, literária, científica, artística ou jurídica e tem actualmente o valor pecuniário de 60 mil euros.

Ensaísta, tradutor, ficcionista e poeta, Frederico Lourenço nasceu em Lisboa, em 1963, e é licenciado em Línguas e Literaturas Clássicas pela Universidade de Lisboa, onde fez o doutoramento sobre os cantos líricos de Eurípides e onde leccionou, de 1988 a 2009, antes de assumir o lugar de professor associado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

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