Os ratos domésticos e nós, uma relação de 15 mil anos

Estudo concluiu que a convivência entre ratos e humanos surgiu ainda antes do advento da agricultura.

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Rato doméstico Cortesia de Lior Weissbrod

A relação dos ratos com os humanos é mais antiga do que se pensava. Um estudo divulgado esta segunda-feira revela que os ratos convivem com seres humanos há 15 mil anos, de acordo com registos fósseis. A investigação baseou-se na análise e comparação de dentes de ratos que recuam a um período entre 10.200 anos e 200 mil anos.

Os cientistas pensam que ratos selvagens se infiltravam nas comunidades humanas na região do Levante (Mediterrâneo Oriental) para roubar grãos silvestres e sementes que os povos antigos recolhiam e armazenavam. E foi assim que estes roedores se tornaram no que actualmente conhecemos como ratos domésticos, desfrutando de comida e abrigo em habitações humanas, segundo um estudo da equipa de Lior Weissbrod, da Universidade de Haifa (Israel), publicado na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences.

Naquela altura, as pessoas viviam em casas redondas feitas de pedra e lama. Os habitantes alimentavam-se de cereais selvagens, como trigo e cevada, além de animais caçados, como veados e javalis. Os ratos parecem ter prosperado neste ambiente, com comida abundante para comer e poucos predadores dos quais fugir. Isto descreve um tempo antes de os cães e gatos começarem a fazer parte da família e ameaçarem a paz dos roedores.

“A investigação fornece a primeira prova de que, há 15 mil anos, os seres humanos viviam num mesmo lugar durante o tempo suficiente para ter impacto nas comunidades locais de animais, o que resultou numa presença dominante de ratos domésticos”, disse Fiona Marshall, co-autora do estudo e professora de antropologia na Universidade Washington em St. Louis, nos EUA. “Isto torna claro que a ocupação permanente destes territórios teve consequências de longo alcance nas ecologias locais, domesticação de animais e sociedades humanas”, acrescentou a investigadora, citada num comunicado da Universidade Washington.

Citado pelo site da BBC, Jeremy Searle, da Universidade de Cornell (EUA), que não está ligado ao estudo, disse que este trabalho fornece uma visão fascinante sobre a associação de ratos com seres humanos anterior à época agrícola. “O importante é a existência de um armazenamento de sementes”, destacou Jeremy Searle. “Não precisava necessariamente de ser grãos cultivados; podiam ser alimentos silvestres reunidos por caçadores-colectores.”

Por outras palavras, o estudo confirmou que os ratos domésticos já se instalavam nas casas de caçadores-colectores do Leste do Mediterrâneo mais de três mil anos antes das primeiras provas conhecidas de agricultura, quando começou a fazer-se a transição para sociedades sedentárias. Além disso, os resultados deste estudo têm amplas implicações nos processos que levaram à domesticação de animais.

“As descobertas fornecem provas claras de que as maneiras pelas quais os humanos moldaram o mundo natural estão ligadas a diferentes níveis de mobilidade humana”, afirmou Fiona Marshall. “Isto sugere que a origem da domesticação animal pode ser ligada ao sedentarização humana milhares de anos antes do que há muito é considerado como o alvorecer da agricultura.”

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