Sucessor de Eduardo dos Santos exige "respeito" a Portugal

O general João Lourenço afirma que Portugal e Angola devem "encontrar soluções para a situação" que "foi criada" e que as relações entre os dois países estão "frias".

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O vice-presidente do MPLA e candidato à Presidência da República foi questionado pela imprensa angolana sobre as relações com Portugal LUSA/FERNANDO ALVARADO

O ministro da Defesa de Angola e candidato do MPLA, partido no Governo, às eleições gerais, João Lourenço, quer "respeito" das autoridades portuguesas às "principais entidades do Estado angolano", admitindo que as relações bilaterais estão agora "frias".

O vice-presidente do MPLA e candidato a sucessor de José Eduardo dos Santos na Presidência da República falava em Maputo, questionado pela imprensa angolana sobre as relações com Portugal à margem de uma visita a Moçambique, na segunda-feira.

João Lourenço acentuou o momento de desencontro entre os dois Estados, após a constituição como arguido do vice-Presidente da República, Manuel Vicente, por corrupção activa, numa investigação da Justiça portuguesa.

"As relações estão, de alguma forma, frias, apenas frias. Estamos obrigados, os dois governos, a encontrar soluções para a situação que nos foi criada", disse o ministro e dirigente do MPLA, em declarações reproduzidas esta terça-feira em Luanda.

"Nas relações entre Estados deve haver reciprocidade. Nós nunca tratámos mal as autoridades portuguesas e por esta razão exigimos, de igual forma, respeito pelas principais entidades do Estado angolano", acrescentou.

Já na sexta-feira o chefe da diplomacia angolana tinha reiterado a necessidade de haver reciprocidade nas relações entre Angola e Portugal, com o tratamento igual às entidades políticas angolanas que é dado aos portugueses.

Georges Chikoti referia-se à publicação pela imprensa portuguesa de notícias sobre a acusação do Ministério Público português contra o vice-presidente angolano.

O ministro das Relações Exteriores de Angola considerou Portugal um parceiro importante, mas as relações entre ambos os países "só podem ser boas se houver reciprocidade de tratamento de entidades políticas, de tratarem Angola como deve ser".

Referiu que é preciso que haja a mesma reciprocidade de tratamento pela comunicação social, porque a angolana "não ataca nem dirigentes, nem outros países".

"E mesmo na separação das instituições, as nossas instituições mesmo que tenham eventualmente cidadãos portugueses que cometam erros aqui, têm o tratamento específico, que fica no fórum judicial e não têm tratamento público pela imprensa", apontou.

Numa reacção sobre o assunto, em Fevereiro, o Governo angolano considerou "inamistosa e despropositada" a forma como as autoridades portuguesas divulgaram a acusação ao vice-presidente de Angola, alertando que essa acusação ameaça as relações bilaterais.

A posição tomada na altura, em comunicado, pelo Ministério das Relações Exteriores refutava veementemente as acusações, "cujo aproveitamento tem sido feito por forças interessadas em perturbar ou mesmo destruir as relações amistosas existentes entre os dois Estados".

Na sua posição, o Governo angolano manifestou-se "bastante preocupado" ao ter tomado conhecimento "através de órgãos de comunicação social portugueses" da acusação do Ministério Público português "por supostos factos criminais imputados ao senhor engenheiro Manuel Vicente".

Na sequência deste facto, a visita a Angola da ministra da Justiça portuguesa, Francisca Van Dunem, anunciada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva, durante a sua deslocação ao país africano, em Fevereiro, deveria ter sido realizada entre 22 e 24 do mesmo mês, mas ficou adiada sine die, a pedido do Governo angola.

O momento actual está igualmente a condicionar a anunciada visita a Angola, na Primavera, do primeiro-ministro português, António Costa.

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