Jorge Sampaio nega qualquer acordo para dissolver Parlamento em 2004

Num evento esta tarde no Centro Cultural de Belém, Jorge Sampaio falou pouco - e indirectamente - sobre a polémica com Pedro Santana Lopes.

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"Tem havido uma ideia de que é tudo uma coisa sinistra, combinada, é tudo absolutamente mentira", afirmou Jorge Sampaio Bruno Lisita

O antigo Presidente da República Jorge Sampaio negou neste domingo qualquer tipo de combinação na dissolução do Parlamento em 2004, e afirmou-se uma pessoa "de boa fé" e sem arrependimentos.

Convidado no ciclo de conversas da jornalista Anabela Mota Ribeiro, no Centro Cultural de Belém, Jorge Sampaio acabou por abordar a polémica dissolução do Parlamento quando o social-democrata Pedro Santana Lopes era primeiro-ministro, ainda que sem nunca falar directamente do actual provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, nem responder às suas críticas.

Na sua biografia política, que será lançado na segunda feira, Jorge Sampaio diz que se fartou de Santana Lopes como primeiro-ministro e que este estava a deixar o país à deriva. Na última semana, Santana Lopes teceu críticas a Sampaio - às quais o antigo Presidente não respondeu - e pediu mesmo um debate televisivo sobre o assunto.

Santana afirmou, por exemplo, que Jorge Sampaio tem "um peso terrível" na consciência por ter dissolvido o Parlamento em 2004 e permitir um executivo que "pôs o país à deriva" e que, na decisão, o que pesou foi o pedido de empresários e banqueiros, e não do povo.

"Tem havido uma ideia de que é tudo uma coisa sinistra, combinada, é tudo absolutamente mentira", afirmou Jorge Sampaio quando questionado sobre o assunto, embora falando sempre de forma geral sobre o tema.

Sampaio lembrou que no seu mandato teve dois primeiros-ministros que "se foram embora", recordando a saída de António Guterres em 2001 do Governo e o convite que lhe foi feito em 1999 para presidir à Comissão Europeia.

O ex-Presidente falou ainda da dificuldade que teve em não dissolver logo o Parlamento aquando da saída de Durão Barroso, seguindo-se a convicção de que "só a dissolução" podia servir o país, porque "havia sinais maiores que apontavam para a legitimação popular".

Sampaio falou ainda da sua queda para promover diálogos, da sua "preocupação antiga" de dar estabilidade ("tive sempre governos minoritários"), mas também da sua forma de ser, de ouvir mas de tomar decisões sozinho, afirmando que foi assim quando se candidatou à Camara de Lisboa e, mais tarde, a Presidente.

Disse ainda, por duas vezes, que é um homem sem arrependimento, que já não tinha idade para arrependimentos, que não se arrepende de nada - citando até uma música de Édith Piaf.

Jorge Sampaio, que se afirma uma pessoa "de boa fé" e não "ordinária", falou a maior parte do tempo dos pais e da infância, dos tempos de estudante e depois dos cargos públicos. E contou histórias, a maior parte delas que fizeram rir a audiência, acabando-as muitas vezes com a frase "foi assim que aconteceu".

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