Museu de Arte Antiga pede autorização para analisar pinturas da exposição A Cidade Global

Em causa estão os quadros A Rua Nova dos Mercadores, ponto de partida da exposição, e O Chafariz d´El Rei.

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A Rua Nova dos Mercadores Jornal Publico

O Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, pediu autorização aos proprietários para fazer análises às pinturas incluídas na exposição A Cidade Global, que alguns historiadores vieram a público considerar falsas.

Contactada pela agência Lusa sobre o ponto da situação das três obras de referência da exposição, cuja análise ficou de ser avaliada pelo museu desde a inauguração, a 23 de Fevereiro, fonte do gabinete de comunicação indicou que "já foram pedidas as autorizações aos proprietários".

Em causa estão os quadros A Rua Nova dos Mercadores, ponto de partida da exposição, e O Chafariz d´El Rei, que apresentam cenários da Lisboa do século XVI, e cuja autenticidade foi questionada pelos historiadores Diogo Ramada Curto e João Alves Dias em textos publicados pelo semanário Expresso.

A Rua Nova dos Mercadores, que os investigadores têm situado entre 1590 e 1610, está dividida em dois painéis, e é propriedade da Sociedade de Antiquários de Londres, enquanto O Chafariz d´El Rei terá sido pintado entre 1570 e 1580, e pertence à colecção de José Berardo.

O pedido de autorização aos proprietários para análise às obras foi feito "há dias" pelo MNAA em acordo com Direcção-Geral do Património Cultural, organismo que tutela os museus nacionais. Ao que o PÚBLICO apurou, a Sociedade de Antiquários de Londres e Berardo ainda não deram a sua resposta.

Na véspera da inauguração da mostra - que apresenta Lisboa como uma importante cidade global no período do Renascimento - o director do MNAA, António Filipe Pimentel, tinha referido aos jornalistas que a análise às obras ia ser avaliada.

"É preciso saber se é possível ir mais fundo nas análises, e também se os proprietários autorizam essa peritagem", disse o responsável do museu aos jornalistas, na altura.

Esta quarta-feira, ao PÚBLICO, Pimentel garantiu que as análises laboratoriais só serão feitas se a autorização dos proprietários para tal chegar durante a exposição A Cidade Global, que termina a 9 de Abril. "Se assim não for, as duas pinturas serão devolvidas aos seus proprietários e ficará nas suas mãos a decisão de as levar a laboratório ou não." A decisão e os custos. 

A polémica sobre a datação das obras, que os historiadores apontam para o século XX, levou a que o director do museu fizesse uma declaração em relação à credibilidade do trabalho das historiadoras Annemarie Jordan Gschwend e Kate Lowe, The Global City: On the Streets of Renaissance Lisbon, sobre o qual assenta a exposição. António Filipe Pimentel, sublinhou, na altura, que o livro foi "amplamente celebrado pela crítica internacional".

Nele, as autoras fazem uma reconstituição do ambiente da cidade de Lisboa no ciclo dos Descobrimentos, a partir de dois quadros que haviam identificado como uma representação da Rua Nova dos Mercadores, a principal artéria comercial de Lisboa no período do Renascimento.

Foi "pelo ineditismo da sua visão e objectiva relevância histórica" que o MNAA entendeu convidar as autoras a adaptarem o livro a uma exposição: A Cidade Global: Lisboa no Renascimento, que ficará patente até 9 de Abril.

António Filipe Pimentel sustentou ainda, na altura, que a mostra conta com o contributo de Henrique Leitão, Prémio Pessoa 2014, como consultor para a História da Ciência e que reúne "um conjunto, o mais diversificado possível, de acervos, públicos e privados, nacionais e internacionais, numa amostra inédita de obras, todas creditadas ou pela documentação ou pela comunidade científica".

Sobre as notícias do jornal Expresso, o director afirmou, na altura que, nesta questão que "é do foro da História da Arte", o semanário deu voz "a dois historiadores, assumidamente não especialistas nesta área científica, deixando em silêncio os da especialidade, não obstante reconhecer os seus contributos, genericamente de orientação oposta".

A exposição A Cidade Global, que reúne cerca de 250 obras da época, desde mobiliário, pintura, livros, e tapeçaria, entre outros, recebeu, até terça-feira, um total de 18 547 visitantes, segundo o museu. 

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