Sócrates interrogado seis horas e confrontado com novas suspeitas

Em causa estão as alegadas 'luvas' pagas pelo Grupo Espírito Santo, o favorecimento a Vale do Lobo, a posição face à OPA da SONAE e a entrada da PT na Oi.

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José Sócrates acompanhado pelo seu advogado João Araújo LUSA/NUNO FOX

O ex-primeiro-ministro José Sócrates foi interrogado esta segunda-feira durante mais de seis horas para o Ministério Público (MP) o confrontar com as novas suspeitas reunidas nos últimos meses no âmbito da Operação Marquês.

Em causa estão as alegadas ‘luvas’ pagas pelo Grupo Espírito Santo para que Sócrates favorecesse os interesses daquele universo financeiro em negócios da PT, de quem o Banco Espírito Santo chegou a ser o maior accionista privado. E também o facto de o alegado favorecimento ao empreendimento de Vale do Lobo ter deixado de estar ligado à forma como foi aprovada a revisão do Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve, num Conselho de Ministros presidido por Sócrates em 2007, para passar a estar associado às condições em que foi concedido um empréstimo avultado na Caixa Geral de Depósitos (CGD), que permitiu a um conjunto de investidores portugueses comprar o resort.

Face à transferência de dois milhões de euros feita por um cidadão holandês a pedido do presidente do grupo que gere o empreendimento de Vale do Lobo, Diogo Gaspar Ferreira — transferidos para uma conta controlada pelo administrador do Grupo Lena, Joaquim Barroca, de onde terá saído um milhão para Armando Vara e outro para Carlos Santos Silva, o alegado testa-de-ferro do ex-primeiro-ministro — o MP mantêm as suspeitas de corrupção imputadas a Sócrates, mas agora pela alegada intervenção na concessão do financiamento.

A OPA da Sonae e a entrada da PT na Oi

Relativamente à PT, a equipa liderada pelo procurador Rosário Teixeira acredita que as contrapartidas se destinaram a compensar a intervenção de Sócrates em dois momentos. Primeiro na posição assumida pelo Estado português enquanto accionista (quer directamente, quer através da CGD) na OPA lançada pela Sonae (proprietária do PÚBLICO), que terminou chumbada em Março de 2007, com o contributo da CGD, que detinha mais de 5% da operadora. E, por fim, pelo seu envolvimento na definição dos contornos da venda das participações da PT na Vivo à Telefónica e simultânea entrada da PT na Oi, aprovada no final de Julho de 2010 pela administração da operadora portuguesa.

Além de Sócrates, nesta semana ainda serão ouvidos no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), em Lisboa, outros arguidos: Sofia Fava, a ex-mulher do antigo líder do PS, tem interrogatório marcado para esta quarta-feira, dia em que também deverá ser ouvido Diogo Gaspar Ferreira, presidente da empresa que gere o empreendimento de Vale do Lobo. Na sexta-feira será a vez de Joaquim Barroca Rodrigues.

Após o interrogatório, Sócrates apontou baterias ao líder do PSD: “Podem pedir responsabilidades ao dr. Passos Coelho no negócio da fusão da Portugal Telecom com a Oi”, declarou, confirmando ter sido confrontado com alegações do MP sobre aquele negócio, mas “tão estapafúrdias que não têm o mínimo de sustentação”.

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