Livro de Cavaco: “Não está no topo das minhas prioridades”

Marcelo está a fazer o que prometeu: ser um factor de estabilidade – mesmo não agradando a algum eleitorado do partido, admite Cristas. E Cavaco? Talvez tenha escrito as memórias cedo de mais.

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Assunção Cristas na sede do CDS Nuno Ferreira Santos

A líder do CDS acredita que “o tempo é escasso ainda” para fazer a história, mas percebe a “urgência pessoal” de Cavaco Silva “em explicar” o seu mandato.

Marcelo tem sido um presidente equilibrado ou tem andado com o primeiro-ministro ao colo?
Penso que tem sido um presidente igual a si próprio, num estilo muito específico e muito diferente daquilo a que estávamos habituados a ver na cena política. De alguma forma intenso naquilo que são as suas convicções. Lembro-me que um dos temas em que o presidente Marcelo Rebelo de Sousa foi claro, antes e logo no início do seu mandato, foi que seria um factor de estabilidade. Estabilidade, no actual contexto, é não entrar em guerras com o Governo e ser um elemento para que esta estabilidade da aliança política que existe à esquerda possa continuar o tempo que tenha de continuar. E sobretudo não com uma intervenção negativa por parte do Presidente. Nessa matéria está a fazer aquilo que prometeu. Poderá agradar a uns, não agradar a outros, mas está a fazer aquilo que disse que iria fazer.

Tem agradado ao eleitorado do CDS?
Porventura, muitas pessoas não gostarão de ver o Presidente tão próximo desta estabilidade de um governo que não é aquele que nós queremos, como é evidente. Nós não nos revemos nesta solução governativa, não gostamos dela, gostaríamos de mudar de governo. Mas não podemos assacar essa responsabilidade hoje ao Presidente, que prometeu estabilidade.

Se alguma coisa correr mal, o Presidente também será responsável?
Tenho muita cautela quando atribuo responsabilidades, porque acho que cada um tem os seus papéis. O Presidente não tem um papel executivo, quem tem o papel executivo é constitucionalmente o Governo com o seu apoio parlamentar, neste caso com os acordos que fez com o PCP, com o BE, com os Verdes e ainda com a ajuda do PAN. Mas a responsabilidade está no primeiro-ministro, está nos seus aliados à esquerda. O que nunca poderão dizer do Presidente é que lhes dificultou a vida.

Quando o actual Presidente terminar o mandato e, no caso de se recandidatar, quando terminar dois mandatos, considera que Paulo Portas é um bom candidato à Presidência?
Terão de lhe perguntar a ele. Paulo Portas neste momento está na sua vida, nova vida, empenhado, entusiasmado, cheio de ânimo e motivação.

Mas qual a sua opinião?
Creio que, se ele um dia entender regressar à vida política activa, terá de fazer um caminho nesse sentido. Acho que não é impossível, de forma nenhuma. É muito novo e pode dar muito ao país. Não sei se isso está nos seus planos, mas certamente terá de mudar de vida para que isso um dia venha a acontecer.

Leu o livro de Cavaco Silva?
Ainda não.

Tenciona ler?
Quando tiver algum tempo, sendo certo que o meu tempo livre é muito limitado e eu tenho vários livros de literatura que estão à espera de tempo. Portanto, o que eu lhe posso dizer é que não está no topo das minhas prioridades, embora tenha ido ao lançamento e visto aquilo que veio na comunicação social.

Pelo que viu na comunicação social, considera que o ex-Presidente se excedeu na divulgação de informações que podem ser consideradas como ao abrigo do dever de sigilo dos ocupantes de órgão de soberania?
Eu acho que, porventura, o tempo é curto ainda. Agora eu sinto que o professor Cavaco Silva tem — aliás, disse-o no lançamento do livro — um sentido de prestação de contas e de emergência, no pós-exercício de cargos, de explicar o que fez e como fez e, se calhar, havia coisas que ele achava muito relevante serem explicadas, até pelas circunstâncias em que muitas decisões foram tomadas. Dito isto, o tempo da história às vezes é diferente do tempo pessoal e da necessidade e da urgência pessoal em explicar as coisas.

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