Negócio suspeito de 93 milhões travado no Montepio

Montepio e Martifer criaram uma sociedade para comprar a participação do banco na Almina, a empresa que explora as minas de Aljustrel.

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patricia martins

O negócio não chegou a avançar, porque fez soar as campainhas de alarme no Conselho de Supervisão da Caixa Económica Montepio Geral. O banco e o grupo da construtora Martifer preparavam-se para, através de uma empresa criada pelos dois, comprar a participação do banco numa empresa de minas do grupo Martifer, a Almina, que explora as minas de Aljustrel.

O “suspeito” é descrito pelo Diário de Notícias como uma tentativa de, através desta compra pela nova sociedade veículo, que chegou a ser criada com o nome de Vogais Dinâmicas, se fazer uma limpeza nas contas do Montepio. Na prática, com a aquisição pela Vogais Dinâmicas, os 19% que o banco detém na Almina SGPS, SA sairiam do balanço da Caixa Económica.

Contudo, esta operação não chegou a realizar-se, conta o jornal, por causa da intervenção do conselho de supervisão tudo aconteceu um dia antes do fecho das contas do terceiro trimestre de 2016.

Os caminhos entre o Montepio e a Martifer cruzam-se por variadas vezes. Ainda no mês passado, o PÚBLICO noticiou que os presidentes da associação Mutualista Montepio Geral, Tomás Correia, e o presidente do grupo Martifer, Carlos Martins, foram constituídos arguidos num caso de suspeitas de insolvência danosa, burla qualificada, emissão de cheques sem provisão.

Em causa estava um negócio de terrenos perto de Coimbra numa transacção de cerca de 32,4 milhões de euros. Os terrenos, conhecidos por Colinas de Vale Meão, foram vendidos e não pagos. A investigação diz que foi criada uma empresa, a Cityprofit, e que foi através dessa empresa a que todos estavam ligados que se processou o negócio de contornos suspeitos e que está a ser investigado. 

O braço financeiro do Montepio é uma das preocupações centrais do Banco de Portugal no que toca à supervisão bancária. Uma vez que se trata de um banco de menor dimensão é directamente supervisionado pelo BdP e não pelo BCE, como os cinco principais bancos portugueses. Contudo, se a Caixa Económica é supervisionada pelo BdP, o supervisor não tem poderes para fiscalizar o accionista do banco: a associação mutualista.

Ainda a semana passada, questionado pelo PÚBLICO em entrevista sobre essa falta de controlo do BdP sobre a associação mutualista, Carlos Costa respondeu que no centro das preocupações do BdP está a reformulação do modelo de governo da Caixa Económica e numa separação entre o braço financeiro do Montepio e o seu accionista. “O que me preocupa não é que o accionista tenha problemas, é assegurar que o banco não está exposto ao accionista”, disse.

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