Empresa portuguesa testa em cadáveres software inovador para cirurgia ao joelho

Empresa Perceive3D recebeu 1,3 milhões de euros da Comissão Europeia para testar nova tecnologia.

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Software poderá permitir reduzir a incerteza, reduzir os erros e as cirurgias de revisão MARIA JOAO GALA

As cirurgias ao joelho são cada vez mais feitas por recurso a uma técnica conhecida como artroscopia e que permite que o cirurgião realize a operação fazendo apenas pequenos furos – o que facilita a recuperação do doente, mas reduz muito o campo visual para o médico trabalhar. A empresa portuguesa Perceive3D (P3D), que está a desenvolver um software que ajuda o cirurgião a escolher o local certo para fazer a incisão, conseguiu arrecadar um financiamento europeu de 1,3 milhões de euros para dar mais um passo e testar a nova tecnologia em cadáveres.

A P3D foi uma das três empresas portuguesas seleccionadas pela Comissão Europeia para receber financiamento no âmbito de um dos sistemas de incentivos integrados no Programa de Investigação Horizonte 2020 da União Europeia, que contemplou um total de mais de 70 pequenas e médias empresas de 22 países.

O presidente executivo da P3D, João Barreto, explicou ao PÚBLICO que as verbas da Comissão Europeia vão permitir que a empresa de Coimbra avance para uma nova fase do software de navegação desenvolvido para a cirurgia ortopédica, para validar em cadáveres a técnica que desenvolveram. A empresa tinha sido inicialmente financiada pela Portugal Ventures.

“A artroscopia é uma técnica minimamente invasiva, com muitas vantagens para o doente e para o sistema de saúde, mas em que o elo mais fraco é o cirurgião, que fica totalmente dependente da experiência. O que desenvolvemos foi um software que vai permitir reduzir a incerteza, reduzir os erros e as cirurgias de revisão já que dá informação 3D em tempo real”, acrescentou João Barreto.

O software desta empresa, que é uma spin off do Instituto de Sistemas e Robótica da Universidade de Coimbra que tem trabalhado com o Serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra, combina um processamento inteligente da imagem com uma tecnologia de realidade aumentada em tempo real, sugerindo ao médico o melhor sítio para fazer a incisão. “É um apoio para a decisão. O sistema não toma decisões clínicas, mas ajuda a decidir menos por inferência”, resume João Barreto. O responsável estima que os testes em cadáveres sejam feitos ao longo de um ano e, se tudo correr bem, o próximo passo será passar para cirurgias em pessoas vivas.

Além da P3D, a linha do Programa 2020 decidiu também atribuir 1,39 milhões de euros à Biomimetx, de Cantanhede, que descobriu uma bactéria única com capacidades de fermentação especiais e que pode ter uma aplicação nas tintas utilizadas, por exemplo, em embarcações, reduzindo os custos de manutenção e o consumo energético dos navios.

Já a Bluemater, do Porto, recebeu mais de dois milhões de euros para o projecto que está a desenvolver para o tratamento de águas residuais e de aterros sanitários. A tecnologia da empresa permite reduzir o custo com os tratamentos, em comparação com os métodos tradicionais.

A Agência Nacional de Inovação, numa nota, destaca que houve 30 empresas portuguesas a submeter propostas, pelo que a taxa de aprovação dos projectos foi de 10%, mais do dobro da média europeia. O comissário europeu da Investigação, Ciência e Inovação, Carlos Moedas, em comunicado, também salientou que, em dois anos, o programa da União Europeia “já financiou mais de 60 pequenas e médias empresas portuguesas inovadoras com mais de 13 milhões de euros”. A linha de incentivos que chegou agora a estas três empresas foi criada a 1 de Janeiro de 2014. Já foram seleccionadas 641 empresas para financiamento, sendo oito das empresas portuguesas.

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