Se Orlando Figueira "for esta pessoa", Carlos Alexandre não quer ser seu amigo

O magistrado é amigo do procurador há 25 anos e terá tentado convencê-lo a não aceitar emprego na Sonangol.

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Miguel Manso

O juiz Carlos Alexandre disse estar “estupefacto” com a detenção do antigo procurador Orlando Figueira, em Fevereiro de 2016, sob acusação de corrupção, no âmbito da Operação Fizz.

A 5 de Agosto, o juiz Carlos Alexandre foi chamado ao Tribunal Central de Instrução Criminal como testemunha, onde se afirmou surpreendido com as acusações dirigidas ao procurador. O juiz admitiu ter enviado uma mensagem a Orlando Figueira. A mensagem, partilhada em tribunal, apelava a um esclarecimento e foi divulgada pela TVI. “Quando puderes falamos porque estou certo que tudo isto há-de esclarecer”, escreveu.

Carlos Alexandre disse ainda que tentou, em vão, demover o amigo procurador da decisão de trabalhar para a Sonangol. “Estás-te [sic] a pôr a jeito para arranjar um processo disciplinar, para que não seja outra coisa, qualquer que seja, né?”, ter-lhe-á dito, à data da decisão.

Orlando Figueira, procurador entre Setembro de 1990 e Setembro de 2012, é acusado de crimes de corrupção, branqueamento de capitais e falsificação de documentos.

De acordo com as autoridades, o ex-magistrado, que havia sido encarregado de investigar Manuel Vicente, vice-presidente de Angola e ex-presidente da Sonangol, do crime de branqueamento de capitais, terá recebido 760 mil euros para arquivar todos os processos que corriam em Portugal. O vice-presidente angolano foi acusado pelo Ministério Público português de corromper o procurador português.

“Se o Dr. Figueira for esta pessoa que estão a retratar nos jornais, não posso ser amigo desta pessoa”, disse. O juiz terá acrescentado ainda que o ex-procurador era conhecido entre os amigos como “inocente”, uma vez que acreditava nas mentiras que lhe contavam de histórias de tribunais.

Orlando Figueira e Carlos Alexandre conheceram-se há 25 anos, quando ambos trabalhavam no tribunal de Vila Franca de Xira. Tornaram-se amigos. Em 2015, Orlando Figueira transferiu dez mil euros para Carlos Alexandre. Por essa altura, já Orlando Figueira tinha arquivado os processos do vice-presidente angolano, deixado o Ministério Público e passado a trabalhar no BCP.

O juiz acabou por devolver o empréstimo de dez mil euros em Março de 2016, já Orlando Figueira tinha sido constituído arguido.

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