Morreu Howard Hodgkin, o pintor das cores emocionais

Artista britânico tinha 84 anos. E duas exposições agendadas para este ano em Inglaterra: na National Portrait Gallery, já em Março, e em Wakefield, em Julho.

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Howard Hodgkin na inauguração de uma exposição sua em Londres, em 2009 Stephen Hird/ REUTERS
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Um dos posters dos Jogos Olímpicos de Londres 2012 DR

Howard Hodgkin, “um dos grandes artistas e coloristas da sua geração”, nas palavras de Nicholas Serota, morreu esta quinta-feira, “pacificamente”, num hospital de Londres, aos 84 anos.

A imprensa britânica é unânime em referir-se-lhe como um dos grandes nomes da pintura do último meio século, com obra distinguida com o Prémio Turner, em 1985 – no segundo ano em que o galardão foi atribuído, e numa altura em que a sua idade, mais de 50 anos, não era impedimento para a distinção –, e representada nas colecções do British Museum e da Tate, mas também do MoMA de Nova Iorque.

Em comunicado, a Tate lamenta o desaparecimento de “uma figura central na arte contemporânea do último meio século”. E num testemunho prestado ao jornal The Guardian, o director da instituição britânica, Nicholas Serota, disse que as pinturas “sensuais e intensas [de Howard Hodgkin] foram impregnadas pelo seu amor e pelo seu conhecimento da pintura francesa do final do século XIX, especialmente Degas, Vuillard e Bonnard, e pela sua sensibilidade para com o calor e as cores da Índia, país que visitou em diversas ocasiões”.

Serota salientou ainda que, “nos últimos 30 anos, o reconhecimento internacional de Howard Hodgkin continuou a crescer com a realização de grandes exposições na Europa e nos Estados Unidos”. “O seu tema dominante – a memória de um encontro ou de uma conversa com um amigo – deu origem a pinturas que irradiam as emoções da vida: amor, raiva, vaidade, beleza e camaradagem”, concluiu o responsável da Tate.

Geralmente associado ao abstraccionismo, Hodgkin dizia de si próprio, recorda o obituário do Guardian, que era um "pintor figurativo de situações emocionais".

Hodgkin tinha agendadas duas exposições para este ano em Inglaterra. A primeira abre já no próximo dia 23 de Março, na National Portrait Gallery, em Londres. Com o título Absent friends, a mostra, que se manterá até 18 de Junho, reúne meia centena de retratos realizados entre 1949 e o presente. Entre os amigos representados estão R.B. Kitaj (1932-2007), americano que desenvolveu a sua carreira em Inglaterra, e os ingleses Patrick Caulfield (1936-2005) e David Hockney (n. 1937).

A segunda exposição abre no dia 1 de Julho, no museu Hepworth Wakefield, no West Yorkshire: Painting India mostra as suas pinturas mais recentes, decorrentes da sua última viagem a este país.

Lamentando também o desaparecimento do artista, os responsáveis por ambas as exposições relevam, no entanto, o facto de Hodgkin ter ainda podido acompanhar as suas montagens. “Começámos [esta quinta-feira] a dependurar Absent friends, a exposição de trabalhos de Howard Hodgkin em que colaborámos muito de perto durante os últimos dois anos”, disse ao Guardian Paul Moorhouse. “Fico muito satisfeito por ele ter sabido, antes de morrer, aquilo que vai ser a exposição”, acrescentou o curador, acreditando que ela resultará numa “celebração maravilhosa da arte extraordinária de Howard Hodgkin como pintor, uma voz verdadeiramente distintiva que, citando as palavras de Delacroix, fez da pintura uma ‘festa para os olhos’”.

O comissário da exposição em Wakefield, Simon Wallis, classificou também Hodgkin como “um dos mais importantes artistas do nosso tempo”, e lamentou que ele não possa assistir à inauguração da exposição. Painting India vai contar com três dezenas e meia de trabalhos e poderá ser visitada até 8 de Outubro.

Howard Hodgkin nasceu em Hammersmith, Londres, a 6 de Agosto de 1932. No início da II Guerra Mundial, em 1940, rumou com a família para os Estados Unidos, fixando-se em Long Island. O contacto com as obras da colecção do MoMA, em especial as de Stuart Davis, Picasso e Matisse, foram determinantes na sua opção pela arte. No regresso a Inglaterra, terminada a guerra, fez a sua formação entre a Camberwell School of Art, em Londres, e a Academia das Artes de Bath, cidade onde viria a realizar a sua primeira exposição individual, em 1952.

Mas a sua carreira não foi fácil, e o pintor lamentava, numa entrevista de 1994, o “caminho muito árduo” que tinha tido de percorrer até conseguir o reconhecimento da sua arte, acrescentando mesmo que o Reino Unido era “um território inimigo” para os pintores.

O reconhecimento definitivo surge na década de 80, logo no início com uma exposição marcante na Hayward Gallery (ao lado de nomes como Gillian Ayres, Anthony Caro e o já citado Patrick Cauldfield); depois, um ano antes do Prémio Turner, com a presença na Bienal de Arte de Veneza em representação do seu país – cidade que se tornaria tema de uma famosa série de trabalhos, Venetian views (1995), nos quais a paisagem local era registada a partir de um mesmo lugar mas em diferentes horas do dia.

Em 2006, a Tate homenageia a sua carreira com uma grande exposição retrospectiva. Em 2012, Hodgkin foi um dos autores dos 12 posters oficiais dos Jogos Olímpicos de Londres, pintando Swimming, uma mancha de um azul aquático e brilhante, simbolizando a natação. Trinta anos antes já se tornara, por deferência da rainha Isabel II, Sir Howard Hodgkin.

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