O primeiro sol

Não é o primeiro sol do ano. Mas qualquer sol antes de começar a Primavera parece o primeiro. Sabe bem fugir para a sombra. Dois amigos nórdicos, esticados ao sol, acusam-nos de perversidade. Tentamos explicar que, a partir do meio-dia, o amor pela sombra é partilhado por gatos e cães. Apontamos para exemplos flagrantes dos mesmos. Não funciona. Continuam com pena de nós.

É como na canção de Noel Coward: “Mad dogs and Englishmen go out in the midday sun/The Japanese don’t care to, the Chinese wouldn’t dare to/Hindus and Argentines sleep firmly from twelve to one.” 

A palavra Verão começa a ouvir-se em todas as conversas. Falar da Primavera é de mau gosto. É como apontar para a roupa de alguém e gozá-la por não ser de meia-estação.

Ainda não se pode dizer “voltou o calor”, mas vontade não nos falta. O primeiro sol engana-nos tão bem como o último dia de frio. O nosso coração chama por simplicidade e maniqueísmo. Por nós só haveria dias bons e dias maus. E todos as nossas orações facilmente se resumiriam com nove palavras: por favor, Deus, mais dias bons, menos dias maus.

Como vai ser o mês de Março? O sol faz crescer os disparates que se trazem na cabeça. Até dia 21, o dia oficial da Primavera, tudo o que não seja inverniço é bem-vindo. Ainda há lugar para muitos outros primeiros sóis do ano.

A que horas voltou a vestir a camisola de lã? Não foi a pergunta mais parva do dia. Os melros já andam consternados a celebrar a Primavera. O primeiro sol já lhes faz companhia.

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