Cartas ao director

O essencial

Na nossa cultura latina quando há um problema temos que encontrar culpados, criamos grupos de trabalho, nos quais, consoante a barricada, se fazem acusações nas diversas direcções, mas resolver o problema de uma forma racional nada! Isto a propósito dos 10 mil milhões transferidos para offshores, relativamente aos quais, caso haja lugar a cobrança de impostos o Estado tem 12 anos para o fazer. Alguém já estará a trabalhar nisso?

Trabalhei dezenas de anos numa multinacional, a qual, para as suas exportações, tinha, até ao final dos anos 80, um centro de facturação em Nassau, nas Bahamas. Quem importasse as suas mercadorias teria que transferir o valor facturado para Nassau. Creio que hoje muitas empresas chinesas adoptam este procedimento que é absolutamente legal, desde que para o Estado Chinês, o único lesado, tal não constitua um problema.

Se se vier a apurar que as tais transferências se referem a pagamento de mercadorias ou serviços a terceiros nenhum imposto haverá a aplicar em Portugal. Este drama seria a tal montanha que pariu um rato, mas um facto é que a análise destas transferências está por fazer e, como cidadão, quero é que se houver impostos a pagar que o sejam.

Em democracia, felizmente, a comunicação social, como quarto poder funciona, e a denúncia feita veio demonstrá-lo. Pede-se aos políticos que se deixem de berraria e façam o seu trabalho, é o que se chama serviço público e foi para isso que os elegemos.

Ezequiel Neves, Lisboa

 

Uma crise mortal

À última foi de vez. A Comissão Nacional do PS aprovou mesmo a despenalização da eutanásia. Num eufemismo grotesco e impróprio chamam "acto médico” a retirar a vida a um doente terminal. Está dado o próximo passo de que falavam os defensores desta abencerragem cibernética.

Mas o passo em frente foi dado num precipício. Porque a afirmação de que a eutanásia não é uma “cultura da morte” mas uma “valorização” da autonomia da pessoa e dos valores que defendem, é um trocadilho oco e falso que projecta um trágico indiferentismo e vai repassado de um gravíssimo relativismo moral.

Um PS de directório, fugaz, cínico e medíocre corre atrás de um puro prejuízo político, numa questão armadilhada à partida pelo veneno niilista e verdadeiramente mortal do movimento Direito a Morrer com Dignidade e do Bloco de Esquerda. O PS entende que a oportunidade desta moção aprovada é trazer à discussão um debate sobre a vida.

Extraordinário. Debater a vida mobilizando a morte. Carlos César, um senador liberal, recordou que o PS decidiu dar liberdade de voto. Magnânimo, remete para a consciência e decisão individual de cada um dos 86 deputados socialistas a ulterior votação no parlamento.

Numa apatia embriagada e resignada, a massa restante assiste calada. Encostada à parede, obstinadamente de venda nos olhos. Até ser tarde de mais. Mas basta querer ver.

Miguel Alvim, Lisboa  

 

 

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