Uma nação à espera

Amanhã expira o prazo definido para o último cessar-fogo em Moçambique. Ainda hoje deve ser anunciado novo prolongamento, bem como uma nova fórmula para as negociações de paz. Há esperança renovada, mas também há o desgaste provocado por uma crise crónica que não tem ainda fim à vista.

Há 30 anos os grandes temas do processo de paz moçambicano eram a descentralização e as forças militares; hoje, os grandes temas são exactamente os mesmos. A última solução tinha sido apresentada nos acordos de Roma, assinados em 1992, mas essa também não resistiu ao tempo. As feridas continuam abertas e embora seja certo que a guerra não existe, não se tem também paz que não seja podre.

Agora há um novo modelo de negociação, que no papel parece mais eficaz. Mas o problema nunca foi o modelo, foi a vontade de cumprir o que se assina e a capacidade de executar compromissos. Ainda hoje devem ser confirmados mais 60 dias de cessar-fogo e só isso já demonstra como é impossível levar a sério uma nação que vive a curto prazo.

A tragédia hoje já não é a guerra, embora possa voltar a ser. A tragédia já não é a corrupção, apesar de ela continuar presente em todo o país. A tragédia também já não é a economia destruída, embora essa teime em contrariar, ano após ano, os cenários de recuperação. A tragédia maior é que, num país em espera, o futuro se dilui numa mansidão poucochinha em que se deseja só que não venha nada de pior.

E é quando a esperança desaparece e a exigência se reduz ao mínimo que o país se limita ao que há: uma elite política mais empenhada em manter o estado das coisas, dando margem para a corrupção e o crime se instalarem confortavelmente e afastando investimento e capital que poderia ajudar a melhorar quem lá vive. Os moçambicanos ainda não se fartaram de esperar, mas não merecem ficar com mais uma geração adiada. À espera da promessa também sempre adiada de uma nação que se cumpra plenamente.

Já nem é preciso voltar a acenar com o Eldorado que se anunciou em tempos para 2017 e que agora já foi empurrado para 2022 e será novamente adiado para sabe-se lá quando. Mas nem é preciso um Eldorado. Moçambique ainda vai a tempo de ser um bom exemplo. Mas infelizmente também vai a tempo de engrossar a lista de nações que, apesar de ricas em recursos, são miseráveis no que realmente interessa: as condições de vida dos seus cidadãos. Enquanto Renamo e Frelimo não se entenderem, nada vai acontecer. E todos continuarão à espera.

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