Engenheira processa Tesla por ambiente de “assédio generalizado”

A denúncia junta-se às queixas de outras mulheres sobre comportamentos impróprios tolerados aos homens nas empresas, além de entraves à progressão na carreira.

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A engenheira diz ter sido vítima de “assédio indesejável e generalizado por homens nas fábricas, incluindo linguagem inapropriada, assobios e piropos" George Frey / Reuters

Depois da Uber, é a Tesla que está debaixo de fogo por acusações de discriminação e assédio contra mulheres.

Esta terça-feira, o jornal briânico The Guardian publicou o depoimento de AJ Vandermeyden, uma engenheira da Tesla que denuncia o ambiente de trabalho que alega ser dominado por homens, onde comportamentos sexuais inapropriados são tolerados e as mulheres enfrentam inúmeras barreiras para evoluir na carreira, e afirma que a empresa de Elon Musk ignorou as suas queixas de “assédio generalizado”.

A funcionária acusa a fabricante de carros eléctricos de lhe pagar um salário mais baixo do que a outros homens na mesma posição e de promover homens menos qualificados em vez de si, afirmando ter sofrido represálias quando chamou a atenção para estes casos.

De acordo com um comunicado da Tesla, a engenheira Vandermeyden começou numa posição comercial em 2013, tendo progredido na sua carreira apesar de não ter um curso em engenharia. Segundo a empresa, mesmo depois de ter apresentado a queixa de discriminação, a engenheira conseguiu ser promovida para um novo cargo, o que prova que a Tesla “está empenhada em recompensar trabalho árduo e talento”.

É ainda referido que, assim que AJ Vandermeyden se pronunciou em relação às denúncias de assédio, a Tesla contratou uma consultora externa – a EMC2Law – para investigar as imputações feitas pela engenheira. Depois de um “exaustivo período de revisão dos factos”, a investigadora independente, Anne Hilbert, declarou que as denúncias de Vandermeyden de “discriminação de género, assédio e retaliação não foram sustentadas”. 

O problema dos ambientes de trabalho hostis às mulheres ganhou particular atenção nas últimas semanas, depois de uma antiga funcionária da Uber ter denunciado episódios de assédio e discriminação ao longo do ano em que trabalhou na empresa. O CEO da Uber, Travis Kalanick, já anunciou uma investigação sobre as alegações da ex-funcionária.

No caso de AJ Vandermeyden, a engenheira de 33 anos revela que processou a Tesla por discriminação, no final do ano passado, na sequência de um episódio em que denunciou falhas na supervisão dos testes de qualidade dos carros da empresa, que tinham sido ignorados por engenheiros e supervisores. Apesar de ter ajudado a resolver o problema, a engenheira não recebeu nenhuma promoção – uma prática que, de acordo com os seus advogados, é sistemática e tem negado a AJ Vandermeyden e outras engenheiras da empresa a possibilidade de progredir na carreira, mesmo quando são “tão ou mais qualificadas” do que os homens.

No processo, a engenheira – que ainda trabalha para a Tesla – denuncia ter sido vítima de “assédio indesejável e generalizado por homens nas fábricas, incluindo linguagem inapropriada, assobios e piropos", cita o Guardian.

Num comunicado enviado ao jornal britânico, a Tesla afirma que este tipo de queixas é "inevitável" numa empresa da sua dimensão, "mas tal não significa que essas queixas têm mérito". A empresa ressalva “a importância de promover um espaço de trabalho inclusivo que reflete as comunidades a que pertencemos”, reconhecendo que é possível "fazer mais para promover a diversidade".

No caso da Uber, e em resposta às denúncias de Susan Fowler, o CEO da empresa afirmou que a experiência da engenheira foi “abominável e contra tudo o que a Uber acredita e defende”. 

“A mudança normalmente não acontece sem um catalisador. Espero que ao tirarmos tempo para perceber o que correu mal e procurarmos soluções, consigamos também contribuir para a melhoria das condições das mulheres de toda a indústria”, escreve Ariana Huffington, co-fundadora do Huffington Post e actual membro da administração da Uber, que faz parte da comissão de inquérito aos casos de assédio na empresa.

Notícia actualizada às 21h17 de 2 de Março: foram acrescentadas informações do comunicado divulgado pela Tesla. 

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