Marcha em memória de opositor assassinado em Moscovo

Ildar Dadin, libertado de uma prisão da Sibéria, promete continuar a combater o "regime fascista de Putin”.

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Há muitos cartazes com o rosto do opositor assassinado no protesto Tatyana Makeyeva/Reuters

Activistas russos concentraram-se no centro de Moscovo para marchar em homenagem a Boris Nemtsov, crítico de Vladimir Putin assassinado a tiro quando atravessava uma ponte a curta distância do Kremlin há precisamente dois anos.

Nemtsov foi morto quando estava a investigar o envolvimento da Rússia na rebelião separatista na Ucrânia. Horas antes de ser atingido a tiro tinha estado na rádio a apelar aos russos para participarem numa manifestação marcada para dias depois, acusando o Presidente de lançar uma guerra ilegal na Ucrânia.

Alguns dos que se juntaram este domingo na capital russa empunhavam cartazes com o rosto do opositor, outros levaram bandeiras da Rússia ou posters com slogans como “Rússia sem Putin”. Antes da marcha, os manifestantes deixaram flores na ponte onde Nemtsov foi atingido pelas costas quando caminhava ao lado da sua namorada ucraniana, na noite de 27 de Fevereiro de 2015.

“O que se percebe é que ainda há obviamente um número razoável de pessoas empenhadas em manter viva a ideia de uma Rússia mais democrática e liberal”, diz o correspondente da Al-Jazira, Rory Challands.

Dezenas de milhares marcharam em Moscovo dois dias depois da morte de Nemtsov e outros tantos participaram no seu funeral. Há um ano, um comício a assinalar o aniversário da sua morte juntou 20 mil pessoas, segundo os organizadores.

Os aliados políticos de Nemtsov acreditam que ele foi morto para silenciar a oposição. Cinco tchetchenos acusados do crime começaram a ser julgados em Outubro. Zaur Dadaiev, que os investigadores acusam de ter disparado a arma, era um oficial às ordens do comandante tchetcheno pró-russo Ramzan Kadirov – o líder da República Rússia da Tchetchénia desmente qualquer envolvimento.

Putin descreveu o crime como uma “provocação”, sugerindo que o opositor foi morto por um dos seus inimigos com o objectivo de incentivar protestos contra o seu Governo. A Rússia tem assistido ao assassínio de vários políticos e jornalistas críticos do regime – os suspeitos de executarem os crimes chegam habitualmente a tribunal, mas as investigações param antes de se perceber quem ordenou as mortes, sublinha a correspondente da BBC em Moscovo, Sarah Rainasford.

Reformista e democrata, Nemtsov foi vice-primeiro-ministro do Presidente Boris Ieltsin, antes de se tornar num dos mais ferozes críticos de Putin.

O domingo começou com a notícia da libertação de outro opositor, o activista Ildar Dadin, de 34 anos, que passou 15 meses numa prisão da Sibéria. Na quarta-feira, o Tribunal Supremo anulou a condenação, uma sentença que fez dele o único condenado no âmbito de uma nova lei contra protestos públicos.

Dadin, declarado preso político pela Amnistia Internacional, diz que foi torturado na prisão. “Vou continuar a combater o regime fascista de Putin”, afirmou ao sair da prisão, num vídeo divulgado online pelo canal de notícias independente Dozhd. “Vou lutar para que os direitos humanos sejam respeitados na Rússia.”

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