O triunfo de May ensombrou a meia vitória de Corbyn

Trabalhistas evitaram eleição do líder do UKIP para o Parlamento, mas perderam para os conservadores um círculo que detinham há 82 anos.

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Corbyn voltou a garantir que, apesar das críticas, não pretende demitir-se Andy Rain/EPA

O Partido Trabalhista britânico impediu a vitória dos populistas do UKIP na cidade a que chamavam a “capital do ‘Brexit’”, mas sofreu uma derrota muito pesada às mãos dos conservadores no outro círculo que foi a votos na quinta-feira – um desfecho que reforça a formação da primeira-ministra, Theresa May, cada vez mais dominante na paisagem política saída do referendo à União Europeia.

Era em Stoke-on-Trent, antiga cidade industrial nas Midlands (Centro de Inglaterra) dominada há 60 anos pelo Labour, que as atenções estavam centradas nestas eleições intercalares para o Parlamento. O Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) acreditava que conseguiria transformar a votação maciça a favor do “Brexit” (70%) no referendo de Junho, em votos suficientes para eleger o seu líder, Paul Nuttall, como deputado e afirmar-se como o partido dos trabalhadores na nova era da política britânica.

Mas depois de uma campanha imersa em polémicas, Nuttall falhou pela quarta vez a entrada no Parlamento, com o trabalhista Gareth Snell a segurar o lugar, ainda que com uma margem mais curta do que a registada nas legislativas de 2015. “Esta cidade não vai deixar que a definam à luz do referendo, nem vai permitir que nos dividam com base no resultado”, assegurou Snell.

Quase de imediato, porém, a noite eleitoral do Labour azedou, com a notícia da vitória da candidata conservadora Trudy Harrison em Copeland, no Norte de Inglaterra, um círculo que estava nas mãos dos trabalhistas desde 1935, quando ainda tinha uma designação e limites geográficos diferentes. Pior do que isso, esta foi a primeira vez que o partido no poder conseguiu vencer uma eleição intercalar (realizada quando um deputado deixa vago o lugar durante a legislatura) desde 1982, altura em que o país estava em guerra com a Argentina pelo controlo das ilhas Falklands/Malvinas e Margaret Tatcher atingia o zénite da sua popularidade.

“Ficou muito claro nesta campanha que as pessoas não se sentem representadas por Jeremy Corbyn”, disse Harrison, pegando nas críticas que a ala centrista dos trabalhistas não se cansa de repetir contra o líder. “Estamos a caminhar para uma derrota histórica e catastrófica”, admitiu à BBC o deputado trabalhista John Woodcock. Poucos acreditam, no entanto, numa rebelião parlamentar idêntica à que Corbyn enfrentou depois do referendo, tendo sido reeleito pelos militantes há apenas cinco meses. E apesar das críticas, o líder trabalhista (tal como Nuttall) deixou claro que não tem intenções de se demitir.

Quem tem razões para sorrir é May – numa única noite viu o UKIP, que durante anos os conservadores viram como ameaça, ser incapaz de capitalizar os votos do “Brexit”, e o seu partido destronou o Labour num território que era até agora intocável. Um resultado, sublinha a BBC, que prova o sucesso eleitoral da sua estratégia inflexível na concretização do “Brexit” (roubando terreno ao UKIP), ao mesmo tempo que se apresenta como a única capaz de responder às aspirações da classe média. “Este é um governo que trabalha para toda a gente e para todas as partes do país”, disse a primeira-ministra, de visita a Copeland. Com os tories a liderar isolados as sondagens – a última atribuiu-lhes 44% intenções de voto – volta a especular-se se May pode convocar eleições antecipadas, para dilatar a maioria no Parlamento e reforçar a sua mão nas negociações com a UE, uma tese que o partido, pelo menos em público, rejeita.

 

 

 

 

 

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