Irmão de Kim Jong-un foi morto com arma química

Relatório preliminar da polícia da Malásia detectou VX no corpo do norte-coreano.

Foto
Imagem de Kim Jong-nam no aeroporto de Kuala Lumpur Reuters/REUTERS TV

A polícia da Malásia revelou nesta sexta-feira que o homicídio de Kim Jong-nam, irmão do líder da Coreia do Norte, foi executado com recurso a um gás tóxico asfixiante altamente tóxico, o chamado VX.

A polícia diz que foram encontrados vestígios deste químico letal nos olhos e na cara do norte-coreano, segundo as análises feitas pelo departamento químico da Malásia.

Kim Jong-nam, de 46 anos, foi morto no aeroporto de Kuala Lumpur na semana passada, quando se preparava para embarcar para Macau.

O VX, sem odor ou sabor, é considerado uma arma química e está classificado pelas Nações Unidas como uma arma de destruição maciça. Os sintomas surgem segundos depois da exposição ao químico na forma de vapor. Na forma líquida, as reacções podem acontecer no espaço de minutos ou manifestar-se até 18 horas depois, explica o Centro de Controlo e Prevenção de Doença dos EUA (CDC, na sigla inglesa). “É possível que qualquer contacto líquido visível de VX com a pele, a não ser que lavado imediatamente, possa ser letal”, pode ler-se no site, que descreve o agente químico como "o mais potente" de todos os agentes que actuam sobre o sistema nervoso.

A acção do agente químico inibe o funcionamento de uma enzima que permite o correcto funcionamento de glândulas e músculos. Sem esta enzima, as glândulas e músculos estão constantemente a ser estimuladas e tornam-se incapazes de sustentar a respiração.

O regime norte-coreano é um dos quatro países que não assinaram o tratado da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), organização intergovernamental que trabalha para eliminar as armas químicas, missão que lhe valeu o Nobel da Paz em 2013. Em 2015, a entrada de Angola reduziu a lista de países que não assinaram o acordo à Coreia do Norte, Egipto, Israel e Sudão do Sul.

A investigação a este caso levou a uma situação de mal-estar entre a Malásia e a Coreia do Norte. O enviado norte-coreano, Kang Chol, acusou a Malásia, um dos poucos países a manter relações diplomáticas com a ditadura dos Kim, de estar a trabalhar com “forças hostis” à Coreia do Norte.

A possibilidade de que agentes norte-coreanas tenham importado um dos mais letais agentes químicos e o tenham utilizado num aeroporto internacional está a ser encarada como "não muito diplomática", confidencia uma fonte próxima do Governo, citada pelo Guardian. Ao mesmo jornal, um funcionário da empresa que detém o aeroporto onde decorreu o ataque disse que o terminal em causa não foi fechado nem houve contacto para uma descontaminação.

Ao longo da semana passada, a polícia interpelou duas mulheres (uma com passaporte indonésio, outra com documentos vietnamitas) e o namorado malaio de uma delas. No sábado, deteve um quarto suspeito, Ri Jong-chol, cidadão norte-coreano, e está à procura de mais quatro homens da mesma nacionalidade que terão deixado o país no dia do crime.

A televisão japonesa Fuji TV mostrou imagens de câmaras de vigilância do aeroporto onde se vê um homem que parece ser Kim a ser abordado por uma mulher antes de outra aparecer atrás dele e lhe esfregar o rosto com um pano – algum tipo de químico, dizem as autoridades. Esta segunda mulher usa uma camisola branca com as letras “LOL”; sabe-se que uma das suspeitas, a indonésia, contou à polícia ter sido paga para fazer o que julgava ser pregar uma partida.

A Coreia do Sul acusa a Coreia do Norte da morte de Kim desde o início do caso, garantindo que havia uma “ordem permanente” do líder Kim Jong-un para eliminar o irmão desde 2012, altura em que este criticou o regime e terá sido alvo de uma primeira tentativa de assassinato.

O meio-irmão mais velho do líder norte-coreano vivia regularmente fora da Coreia do Norte. Estava em Kuala Lumpur à espera de um voo para Macau, onde viveu grande parte da sua vida. Antes de Kim Jong-un chegar ao poder era Jong-nam a ser dado como o provável sucessor do seu pai. No entanto, em 2001 utilizou um passaporte falso para entrar no Japão, o que terá determinado o seu afastamento.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários