Mossul: depois dos militares, irão os arqueólogos

British Museum está a formar técnicos iraquianos para recuperar os estragos perpetrados pelo Daesh em monumentos e tesouros arqueológicos na segunda cidade do país.

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Mural assírio de Nimrud no Museu de Bagdad, fotografado em 2003 Radu Sigheti/ REUTERS

O exército iraquiano lançou no início desta semana uma nova ofensiva com o objectivo de reconquistar a zona ocidental de Mossul, ainda na posse do Daesh. Após avanços e recuos desde o início da operação em Outubro do ano passado, esta é mais uma tentativa para recuperar a segunda cidade do Iraque, e bloquear ainda mais a acção predadora do grupo jihadista.

Paralelamente a esta acção, o British Museum está a formar um grupo de arqueólogos iraquianos tendo em vista o seu regresso e a recuperação dos bens patrimoniais que os combatentes jihadistas têm vindo a destruir por todo o lado onde passam.

O programa foi lançado pelo museu londrino em Janeiro de 2016, e actualmente há meia centena de técnicos iraquianos a frequentá-lo. “Quando a cidade for libertada, teremos já um vasto plano de reconstrução do Museu de Mossul”, disse à AFP – citado pelo jornal francês Le Figaro – Sebastien Rey, um dos responsáveis pela acção de formação do museu londrino. “Queremos fazer algo de construtivo face a algumas das destruições mais medonhas a que já assistimos”, disse, por sua vez, Jonathan Tubb, o arqueólogo responsável pelo programa.

Numa acção que tem a duração prevista de cinco anos, a formação dos técnicos árabes está a decorrer em períodos de seis meses: três deles em Londres e os restantes no Iraque, onde os formandos são chamados a avaliar in loco, e na medida do possível tendo em vista a situação militar do país, os estragos perpetrados pelas forças do Estado Islâmico.

“A formação é muito útil e benéfica para nós; vamos poder utilizar os utensílios e as técnicas que aprendemos aqui em Londres”, disse também Halkawt Qadir Omer, um dos participantes no curso.

A atenção do British Museum para com a situação do património arqueológico e arquitectónico dos países árabes, e em particular daqueles que são reconhecidos como berço da civilização ocidental – como é o caso do Iraque – e têm sido cenários de violentas batalhas e episódios de destruição, vem já desde o início de 2003, ano da Guerra do Iraque com a ocupação do país por uma coligação internacional liderada pelos Estados Unidos.

Em 2005 – recorda o Le Figaro –, o museu britânico associou-se à UNESCO na denúncia da destruição de estações arqueológicas iraquianas, nomeadamente na sequência da instalação de bases militares pelos exércitos norte-americanos e polacos em Hatra (a antiga capital do império patra, património mundial da UNESCO desde 1985) e na Babilónia, a sul de Bagdad.

Mais recentemente, e após a reconquista de território ao Daesh pelas tropas iraquianas, foi o sítio arqueológico de Nimrud que foi encontrado e considerado como “irreconhecível”, totalmente arrasado pelo Daesh.

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