CP melhora resultados mas continua esmagada pela dívida

Em 2016 a CP viu os prejuízos reduzirem-se em 133,5 milhões de euros, dos quais 88 milhões resultam da venda da CP Carga. O resultado da operação (EBITDA) é positivo e a empresa já gera receitas que lhe permitem investir em novos comboios.

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ADRIANO MIRANDA

Os prejuízos da CP apresentaram uma melhoria de 48%, passando de 278 milhões em 2015 para 144,5 milhões em 2016. Para isso muito contribuiu a venda da CP Carga, cuja actividade era também deficitária, mas excluindo esse efeito, ainda assim a redução do prejuízo terá sido na ordem dos 30%.

Isto é, se já não se considerasse a CP Carga no ano em que esta foi vendida (2015), os prejuízos teriam sido de 209 milhões de euros, o que significa que a empresa melhorou os resultados ao fechar 2016 com perdas de 144,5 milhões de euros.

A melhoria nas contas da transportadora ferroviária veio sobretudo do lado da receita. A empresa tem mais passageiros nos seus comboios e isso reflecte-se num aumento dos proveitos de tráfego que foram de 225 milhões de euros há dois anos e subiram para 239 milhões no ano passado.

Do lado das despesas, a CP reduziu-as de 270 milhões em 2015 para 266 milhões em 2016. Como os custos com o pessoal se mantiveram estáveis (na ordem dos 96 milhões de euros), os ganhos foram obtidos sobretudo nos fornecimentos e serviços externos, nomeadamente através da negociação de contratos de combustível e energia eléctrica para tracção.

A taxa de uso (portagem ferroviária paga à Infraestruturas de Portugal) representou 70 milhões de euros no ano passado.

O EBITDA, que mede o resultado da actividade de transporte antes das amortizações, juros e impostos, foi positivo em 350 mil euros, apesar de a CP, pelo segundo ano consecutivo, não ter recebido indemnizações compensatórias do Estado.

A actividade operacional positiva da empresa deve-se sobretudo ao serviço de longo curso (Alfas e Intercidades) que cresceu 13% desde 2013, traduzindo-se num aumento de receitas de 26,4 milhões de euros e em resultados operacionais positivos. No mesmo período os suburbanos de Lisboa e Porto cresceram, respectivamente, 12% e 6,4%, representando ambos um acréscimo de 9,8 milhões de euros, tornando este segmento próximo do equilíbrio.

O parente pobre da CP continua a ser o serviço regional. É o mais deficitário (ainda assim cresceu 2,8% nesse período), mas subsiste à custa dos bons resultados do longo curso, uma vez que a transportadora pública não recebe quaisquer subsídios pela manutenção deste serviço público. As linhas rentáveis pagam as não rentáveis. Dentro da empresa é comum dizer-se que “os comboios ricos pagam os comboios pobres”.

Foi com base na melhoria dos resultados e na constatação de que foi gerada procura que exige uma resposta em termos de oferta, que a administração da CP propôs ao Governo a compra de comboios novos já em 2017. 

A empresa está em condições de suportar os encargos decorrentes de uma eventual aquisição de material circulante, sobretudo tendo em conta que a indústria ferroviária oferece hoje condições de financiamento que tornam esse investimento faseado.

Por fim, há ainda outra dimensão nas contas da CP, que não se mede em centenas de milhões, mas em milhares de milhões. O passivo da empresa – que na prática é o passivo da história do caminho-de-ferro em Portugal – atingiu 3,7 mil milhões de euros em 2015. Pelo segundo ano consecutivo, o Tesouro injectou 600 milhões na empresa destinados a pagar dívida que, desde a intervenção da troika, passou a ser considerada dívida pública.

Por isso a empresa entrou em 2017 com um passivo de 3,1 mil milhões de euros e uma poupança de 19 milhões de euros no pagamento de juros.

EMEF com lucros consecutivos há três anos

A Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário (EMEF) aumentou os lucros de 2015 para 2016 de 1,4 para 3,4 milhões de euros. A afiliada da CP era tradicionalmente deficitária e em 2013 registava ainda prejuízos de 3,4 milhões de euros. No ano seguinte teve resultados positivos de 900 mil euros.

Esta melhoria deve-se ao aumento da facturação e a medidas de racionalização de custos. Em 2013 a empresa facturava 51 milhões de euros, mas nos últimos dois anos o volume de negócios subiu de 58,5 para 63 milhões de euros. Durante este período saíram e entraram trabalhadores, mas os mais novos ganham menos do que aqueles que rescindiram o contrato, o que se traduziu num aumento da produtividade.

Enquanto isso a EMEF deixou de trabalhar quase em exclusivo para o seu accionista CP. Em pouco tempo a empresa-mãe deixou de representar 90% da sua facturação, tendo hoje um peso de 65%. A Medway (antiga CP Carga), o Metro do Porto e até a Renfe figuram entre os principais clientes.

Castanho Ribeiro, director-geral da empresa, diz que tem conseguido amortizar dívida e que graças a este resultados “as entidades bancárias já estão a bater-nos à porta e já fazem empréstimos sem exigir garantias nem cartas de conforto”, coisa que não acontecia há uns anos. Esta facilidade no acesso ao crédito, sublinha, vai ser decisiva para que a EMEF possa lançar-se em concursos internacionais.

Entre 2013 e 2016 a dívida da EMEF reduziu-se de 23,8 para 15,7 milhões de euros. 

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